Anos após a polêmica briga entre Hideo Kojima, venerado criador da saga Metal Gear Solid e um dos mais respeitados autodidatas do mercado de games, e sua empresa, a Konami – fato que acabou por prejudicar o último game de sua franquia, Metal Gear Solid V – The Phantom Pain – eis que o jogo, anunciado na E3 de 2016, intitulado apenas Death Stranding – um game misterioso com uma premissa misteriosa, enfim chega às prateleiras das lojas. Até então, tudo que sabíamos sobre o projeto era que ele era uma espécie de herdeiro do falecido Silent Hills, que nasceu do fruto da parceria entre Kojima e o diretor Guillermo Del Toro (Hellboy, O Labirinto do Fauno), e cujo astro principal era Norman Reedus, o Daryl da série The Walking Dead. Como todos sabem, o game também acabou engavetado após a saída de Kojima da empresa, e deste inusitado acontecimento foi que o novo jogo começou a ser construído, financiado pela gigante Sony (God of War) – o que acabou gerando ainda mais expectativas em torno de sua história e conteúdo. E agora, finalmente colocamos as mãos no recém-lançado título para Ps4 e estamos prontos para responder a pergunta que não quer calar: Death Stranding vale ou não a pena?
Simulador de SEDEX?
Primeira coisa que você precisa saber: Death Stranding NÃO é apenas um simulador de caminhada ou correios, como muitos estão brincando por aí. Hideo Kojima sempre foi um mestre na arte de contar histórias, e aqui ele não fica devendo em nada para seus jogos anteriores, como exemplo supremo a saga Metal Gear. Como um habilidoso cineasta, Kojima sabe usar os personagens e o ambiente do jogo para nos mostrar um mundo pós-apocaliptico diferente de tudo, mas tudo que já foi apresentado em qualquer mídia. O que vemos aqui é uma distopia onde o mundo dos mortos e o dos vivos ficam em constante vai e vem, e graças à hecatombe que dá nome ao jogo, as cidades foram dizimadas e poucas pessoas restaram. Como em todos os seus jogos, o patriotismo aqui é forte, mas mais do que isso, vemos a bandeira americana e os próprios EUA usados para representar a esperança da humanidade – o que à princípio parece algo saído de um clichê de algum filme dos anos 80 acaba por se revelar como uma parábola sobre humanidade, perseverança, e luta pela vida em um mundo onde tudo parece perdido. Por isso, espere por longas (muito longas) cutscenes, marca registrada de Kojima – e gráficos e atuações espetaculares, em um jogo que chega a assustar por seu realismo.
O Homem que Entrega
Mas vamos ao gameplay em si – no game, você é Sam Porter Bridges (Norman Reedus), uma especie de lenda entre os entregadores. Em um mundo onde já não existem estradas ou transporte, é de suma importância fazer entregas, e é exatamente isso que você faz. Suas missões consistem em entregar certas coisas do ponto A ao ponto B, mas o que parece simples se revela, na verdade, um grande desafio, sempre que você se depara com o terreno desafiador (por isso, leve sempre escadas e cordas!), com as temidas EPs (os “fantasmas” que podem te arrastar para o mundo dos mortos) ou mesmo as MULAs, ladrões de mercadoria que são MUITO inconvenientes. Aqui, Death Stranding pega muito da mecânica do último Metal Gear, com sequencias onde você precisa se esconder ou invadir acampamentos usando e abusando do stealth. Um detalhe: apesar das muitas armas que você carrega, você NÃO pode matar ninguém, apenas imobilizar, já que cada morte pode gerar consequências terríveis. Pois bem, para os inúmeros jogadores que acharam o jogo chato e demorado, este que vos escreve confessa que achou cada entrega um desafio. Os terrenos e elementos que aparecem pelo caminho são muito variados, e a própria carga que você carrega pode se tornar um agravante (é mais dificil escapar de uma EP se você estiver muito carregado) – ah, e temos o BB, um bebê, literalmente, que fica ligado a você e precisa ser acalmado sempre que se estressa (e fica emitindo sons através de seu dualshock). Assim, posso dizer que tive uma experiência boa, porém estou ciente de que o jogo com certeza não irá agradar a todos.
Uma longa – e gratificante – jornada
Resumindo, as primeiras impressões que tive da mais nova criação de Hideo Kojima foram bem positivas – com um enredo super original, digno de superproduções, e atuações sensacionais, com direito a um elenco de peso (que ainda conta com Guillermo Del Toro e Mads Mikkelsen em papéis extraordinários), e uma experiência que certamente varia muito de pessoa para pessoa. Confesso que desde Shadow of the Colossus não via nada de tão diferente em um jogo de videogame, e amigos que jogaram até o final afirmam que surpresas sensacionais os aguardam. Então, um conselho: não dê ouvidos às críticas e reviews negativos do jogo, a única maneira de saber qual será sua experiência é sentindo na pele, de fato. Por ora, adianto que a jornada, por mais exaustiva que seja (e sim, o jogo trabalha com essa metáfora o tempo todo), vale sim a pena – seja pelo excelente trabalho de design de game e direção artística, ou simplesmente se você é um fã dos trabalhos anteriores do mestre Kojima e ficou órfão desde o último Metal Gear – Death Stranding vale ser jogado e apreciado, e garanto a vocês que esta, meus amigos, é uma experiência única. Para os amantes de jogos realistas e fora do comum, Death Stranding é uma pérola em meio a shooters e fortnites da vida, e sem sombra de dúvida é um dos games mais pretensiosos e ousados desta geração, e me arrisco a dizer, um dos poucos com coragem para sair do padrão.*
* O review deste game é opinião pessoal do crítico, portanto, sinta-se à vontade para concordar ou discordar – como disse, cada um reage ao jogo à sua maneira.