A nova empreitada da Marvel Studios e também a primeira série live action com os heróis da Editora, era uma empreitada arriscada. Após o hiato de um ano sem filmes graças à pandemia (Viúva Negra era pra ter estreado em Junho de 2020), eis que o MCU tem continuidade, voltando do ponto em que parou, ao final de Vingadores: Ultimato. Partindo de uma premissa inusitada, a série nos apresenta Wanda e Visão vivendo, aparentemente, uma vida perfeita, com claras referências às sitcoms americanas, indo desde Jeannie é um gênio, até Malcolm (anos 2000). Misturando piadas típicas do gênero com referências explícitas ao universo Marvel e à própria história da personagem, Wandavision enfim obteve êxito no que se propôs – prender a atenção do público.
Diferente da segunda temporada de The Mandalorian, que já veio com hype, a série da Feiticeira Escarlate era uma incógnita, sem saber ao certo o que esperar dela. E talvez por isso ela tenha surpreendido tanto com o desenrolar da trama, tornando cada episódio um evento semanal, coincidindo com dezenas de teorias dos fãs, que vieram circulando na internet desde que a série começou, incluindo ainda a aparição de um personagem surpresa, que pegou muitos despreparados.
Em resumo, Wandavision, é sobre luto. Sim, desde o começo sabemos que há algo errado e a série não se preocupar em disfarçar isso. Progredindo em forma de sitcom com a vida de casal, e a chegada dos filhos de Wanda, o episódio 4 quebra a cronologia ao explicar na parte do que estava acontecendo, dando maior escopo a conceitos ainda não trabalhados no MCU, como a Espada (organização que substituiu a SHIELD), e Mônica Rambeau. A partir do episódio 5, com a aparição do Mercúrio dos filmes da Fox (brilhantemente interpretado por Evan Peters), o nível de hype foi elevado a 1000.
Completa em 9 capítulos, podemos dizer que a reta final foi uma jornada, de revelações e de decepções por parte dos fãs, ao verem muitas de suas teorias caírem por terra. Mephisto, Dr. Estranho, e diversos outros personagens, não deram as caras (havia teorias sugerindo a aparição do quarteto fantástico). Tampouco, os X-Men. O mercúrio, que a princípio parecia um sinal nítido que a Marvel havia afinal inaugurado seu Multiverso, era apenas uma trollagem dos diretores, e nem mesmo houve menção a palavra mutante ou ao pai de Wanda nas HQs, Magneto.
Como dito, a série é sobre luto. Sobre a Wanda. Apesar de várias coisas ocorrerem no universo da trama, ela é o foco da história – sua descoberta, como vilã, como ditadora – capaz de prender milhares de pessoas sob controle mental – e uma história, afinal, de redescoberta, de si própria, de seu passado – graças à sua misteriosa vizinha, Agnes, que se revelara Agatha Harkness, uma poderosa feiticeira que nas HQs sempre foi mentora de Wanda.
Agatha foi a introdução no MCU do conceito das bruxas, e de como a magia funciona. Mesmo sendo a antagonista do arco final, ela revela várias coisas à protagonista, inclusive que desde pequena ela sempre fora uma bruxa, talento este intensificado graças os experimentos com o Tesseract, quando Wanda fazia parte do exército da Hydra, antes de Era de Ultron. Também é construída, de forma muito melhor e profunda que nos filmes, sua relação com seu irmão, Pietro, a dor da perda, e como Visão acabou sendo uma luz e um refúgio para ela por um bom tempo. Aliás, palmas para a interpretação de Elizabeth Olsen e Paul Betany, que finalmente tiveram chance de mostrar seu talento.
Mas a realidade nem sempre é perfeita, então é hora de destacar alguns pontos fracos da série, especialmente em seu desfecho. Após uma série em sua maioria introspectiva e contida, eis que o final descamba para algo já familiar, com lutas e cenas de ação – muito bem feitas, aliás. Isso não é um demérito, de forma alguma, principalmente pela luta entre o visão e sua contraparte, o visão branco, que de todos os arcos teve o final mais bem amarrado, eu diria. Porém, algumas coisas bem construídas ao longo da série tiveram um desfecho bem rápido e até inadequado, como a prisão de Hayward, a transformação de Mônica Rambeau na heroína Fóton, e até mesmo Agatha, uma personagem interessante, e que sempre roubou a cena (palmas para o excelente Trabalho da atriz Kathryn Hahn) – que ao final me pareceu ter uma motivação bem rasa e semelhante a muitos vilões clichê.
Tirando esses elementos, que poderiam ser melhor trabalhados, a série nos entrega um final à altura de seu desenvolvimento, com um encerramento digno para Wanda e Visão, e a aparição, afinal, da Feiticeira Escarlate, esperada por muitos desde sua aparição no filme dos Vingadores. O que o futuro nos espera, saberemos apenas em Dr. Estranho – No Multiverso da Loucura, filme dirigido por Sam Raimi previsto para estrear em 2022, e com a participação de Wanda mais do que confirmada. E como a série revelou, de seus filhos, os futuros Wiccano e Célere, que provavelmente irão retornar para dar o pontapé inicial na equipe dos Novos Vingadores.