Uma releitura da popular história, mas com elementos que tornam a experiência diferente para crianças e adultos.
[Vale ressaltar, como o nome sugere, trata-se de uma crítica SEM SPOILERS, o conteúdo a seguir reflete a opinião de seu autor. Sinta-se livre para concordar, ou discordar, total ou parcialmente, o importante é que sua opinião seja expressa com respeito e educação].
Pinóquio por Guilhermo Del Toro, conta a querida, nostálgica e muito popular história de Pinocchio, o menino de madeira, ou melhor, o boneco de madeira que queria ser um menino de verdade, a essência da história continua a mesma, Gepeto, Pinóquio, nariz que cresce quando a marionete mente, e tudo o que esperamos da história, o que tem leves mudanças são os conflitos que movimentam a história.
É muito interessante quando começamos a assistir este filme e não percebemos que se trata de uma animação em stop motion, sabe, aquele tipo de filme que parece ser feito de bonecos de massinha, meio travados, que a gente vai vendo tudo se mexer quadro a quadro? Pois é, este filme é feito no mesmo estilo, porém, com a evolução da tecnologia, e uma direção de arte e fotografia maravilhosas, é muito fácil ser confundido com um filme feito em computação gráfica. Sim, embora o emprego de computação gráfica às animações em stop motion não sejam novidade, ainda costuma ser mais difícil confundir uma técnica com a outra, mas aqui, com exceção de alguns movimentos muito específicos, como círculos, ou alguns movimentos mais limitados do próprio Pinóquio, é muito fácil esquecer que se trata do stop motion.
Como já dito, a direção de arte e fotografia são maravilhosas e até as músicas são caprichadas, ainda que não se trate de um musical, há canções que ajudam a conhecer alguns personagens e até a encaminhar a história. Achei apenas que em alguns momentos a dublagem em português brasileiro acabou ficando desbalanceada e o volume um pouco baixo, mas são situações pontuais, pode atrapalhar você assistir o filme de madrugada, mas durante o dia, com o volume da tv mais um pouco mais alto, sem incomodar ninguém, não será problema.
Tecnicamente, não tem muito o que falar de Pinóquio aqui, é um excelente filme, por isso, se você estava preocupado apenas com a qualidade técnica do filme, vai na fé que não tem erro, é um baita trabalho técnico, som, vídeo, tudo muito azeitadinho, gostosinho, só sentar e apreciar.
E a história é exatamente a mesma? Pois então, a história é e não é exatamente a mesma. Sim, ela retrata o arco de evolução do boneco de madeira, mas agora se nos lembrarmos que a versão original de 1883, escrita por Carlo Lorenzini, era uma versão mais sombria e não focava tanto na questão das mentiras do boneco, já começamos a pegar um pouco mais informações de conceitos abordados nesta história apresentada por Del Toro.
Na história desta animação, temos mais detalhes da época em que Gepeto vive, há marcas e nomes relacionados à nossa realidade, a crueldade de uma guerra mundial espreita, a influência da religião e líderes políticos italianos nos situam no espaço e tempo. A magia, o conto de fadas se posicionam em um ponto passado de nossa realidade e isso nos proporciona duas formas de apreciar esta obra. Uma possibilidade é a nostálgica, que vai nos relembrar do conto de fadas, e esta vertente é o que, provavelmente, a maioria das crianças vai enxergar, elas verão a história do boneco e aprenderão sobre mentiras, já os adultos, ainda podem ser recompensados ao identificar estas marcações temporais e compreender um pouco mais de contextos históricos, o que não vai estragar a experiência, mas complementá-la.
Além disso, Pinóquio não é tão inocente quanto nas histórias passadas. Talvez vocês já tenham percebido que as crianças de hoje são mais questionadoras do que aquelas dos anos 1980 e 1990, elas têm dúvidas, não aceitam qualquer coisinha como resposta, se aceitarem, depois de algum tempo podem voltar com mais questionamentos e isso é uma característica muito da nossa realidade atual. Pois aqui, o Pinóquio também não é tão sonso, inocente e manipulável. Vemos que, enquanto na versão antiga da Disney, tínhamos um boneco que era facilmente levado ao erro, a fazer coisas que não queria, inclusive a mentir, aqui temos um Pinóquio mais curioso, mais crítico, o que alguns podem enxergar até mesmo como mais rebelde. Ele assume posições e riscos, faz o que quer, e aprende sobre causa e consequência de forma mais parecida com as crianças nascidas depois dos anos 2000.
Pinóquio por Guilhermo Del Toro é uma releitura muito atual de uma história clássica de mais de 100 anos, e assim como o avanço da tecnologia fez bem para realização da obra, temos também uma modernização muito boa da história, o que mantém a essência e nostalgia que os adultos gostam, adicionando elementos que lhe dão uma revigorada. É uma aventura para toda a família tirar proveito e que vale muito a pena assistir quantas vezes quiser, sozinhos, com os filhos, e contar que terá exemplos para ajudar a lidar com seus filhos enquanto eles crescem e descobrem o mundo.
Pinóquio por Guilhermo Del Toro está indicado ao Oscar de Melhor Animação em Longa Metragem, e tem boas chances de levar a estatueta, pois a história é conhecida, mas renovada, conta com uma técnica muito apurada de stop motion, e toda a parte técnica muito bem afiada, a fotografia, direção de arte e edição trabalham em boa sintonia e isso o torna um dos indicados mais fortes, eu acho que este leva a estatueta. Atualmente você pode assistir Pinóquio por Guilhermo Del Toro na Netflix.
Review
Pinóquio por Guilhermo Del Toro
Pinóquio por Guilhermo Del Toro é um stop motion de muita qualidade, nos traz a velha história que quase todos conhecemos e adiciona alguns elementos criativos que a situa em nosso mundo, ainda que em outro tempo, atualiza o boneco de madeira, que passa a se parecer um pouco mais com uma criança contemporânea, e com tudo isso, é capaz de nos encher os olhos, nos entreter e trazer uma boa reflexão, tanto sobre mentiras, quanto comportamentos de adultos e a vida.
PROS
- Visual Incrível;
- Técnica de stop motion impressionante;
- Atualizações necessárias e que não abalam a estrutura clássica;
- O ritmo é excelente;
- Posicionamento histórico;
- Propõe reflexões diferentes para crianças e adultos;
CONTRAS
- Dublagem em português brasileiro teve alguns desbalanceamentos pontuais de volume.