A série brasileira roteirizada pelo escritor Raphael Dracoon e produzida por Carlos Saldanha (A Era do Gelo, Rio) traz uma trama de investigação, mistério e suspense, com uma releitura moderna de algumas das lendas de nosso folclore. Na história, acompanhamos o policial Erik (Marco Pigossi), em busca de respostas após a morte de sua esposa (Julia Konrad), ao mesmo tempo que uma comunidade ribeirinha é ameaçada por um empresário que pretende expulsar todos dali para fazer uma suposta reserva ambiental. É então que entram elementos do realismo fantástico – com elementos que lembram um pouco o conceito de American Gods, vemos as velhas lendas e muitos vivendo escondidas entre pessoas comuns, disfarçadas sob semblantes humanos, sem contudo perder seus poderes. A decisão de retratar figuras do nosso folclore delegadas à favela e a periferia é uma metáfora para simbolizar o quanto o lado místico de nosso país foi sendo delegado aos guetos.
Com o desenrolar da trama, descobrimos uma misteriosa figura que aparentemente está matando, uma por uma as lendas, a identidade por trás desse algoz é algo que rende excelentes reviravoltas, sobretudo no 5º episódio – apesar do desfecho ter sido planejado, resta-nos a sensação de algo apressado, e até mal encerrado, como se restasse ainda um episódio para fechar a trama por completo.
Concluindo: Cidade Invisível é um grande acerto do cinema nacional, e uma maravilhosa sobrevida ao nosso folclore, tão apagado em comparação com mitologias estrangeiras abordadas em outras produções.
Além disso, a série tem o mérito de trazer boas atuações, ótimos efeitos especiais, usados na medida certa, sem descambar para algo exagerado – além, é claro da própria questão ambiental abordada, infelizmente uma realidade corriqueira no mundo em que vivemos.
Nota: 8/10
Saiba mais sobre alguns personagens:
Erik (Marco Pigossi) – o policial da polícia ambiental que é o fio condutor da trama – seu plot, que a princípio parece clichê – o marido que busca resposta após a morte da esposa acaba se transformando em algo muito mais denso e profundo. Porém, como ocorre com todo protagonista, a narrativa sofre por girar o tempo todo em torno dele.
Luna (Manu Dieguez) – a filha de Erik e Gabriela, que começa a série sob o trauma da perda da mãe, e o crescente fascínio pelas figuras do folclore. Com o tempo, a menina vai se tornando um elemento quase de filme de terror – a criança doente com um terrível mistério por trás de sua condição.
Isac (Wesley Guimarães) – O saci de nosso folclore é aqui retratado de forma genial como um garoto de favela, o que condiz 100% com a natureza do mito. Apesar de ficar apagada por boa parte da serie, tem grande importância no final.
Inês (Alessandra Negrini) – A Cuca, figura bastante conhecida do folclore e de nossa cultura (principalmente graças ao sítio do pica-pau), chega aqui numa forma totalmente diferente daquela que conhecemos, mais próxima de uma feiticeira/bruxa do que uma mulher com rosto de jacaré. Tem importância fundamental na trama.
Camila (Jéssica Corés) – a Iara/Uiara, sereia que atrai/enfeitiça os homens para o mar surge nesta roupagem bem criativa, de todas as lendas é a que mais mantém contato direto com o protagonista.
Tutu (Jimmy London) – talvez o mais obscuro de todos os mitos retratados, o gigante barbudo na verdade é o Tutu Marambá, uma entidade da destruição, aqui representada como um porco-do-mato gigante que segundo o mito, habita as florestas de nosso país. De todos os mitos, é o único que não tem sua origem totalmente trabalhada.
Iberê (Fábio Lago) – inicialmente retratado como um mendigo numa cadeira de rodas, com o tempo descobrimos que se trata na verdade do Curupira, o famoso protetor das florestas do folclore – sem dúvida, uma das figuras principais do enredo. Apesar de se recusar a entrar na “guerra” entre os mitos, acaba tendo papel fundamental ao final – destaque do excelente trabalho de caracterização/efeitos especiais realizado no personagem, talvez o mito com mais apelo visual de todos.
Manaus (Victor Sparapane) – O Boto cor-de-rosa do folclore nacional, famoso por engravidar moças e desaparecer nos rios em seguida, acaba sendo o grande catalisador da trama – assim como em Memórias Póstumas de Brás Cubas, a historia começa com sua morte e ele aparece ao longo da serie em Flashbacks.
Review
PROS
- Roteiro ágil
- Bom uso dos efeitos visuais
- Boas atuações
- Bom desenvolvimento dos personagens
CONTRAS
- Série peca no ritmo em alguns momentos
- alguns personagens poderiam ser mais desenvolvidos
- final é abrupto demais e deixa muitas coisas em aberto