40 anos, mais de 10 filmes, sem contar quadrinhos, livros, séries e videogames. Este é o legado de Star Wars, criador dos blockbusters, março da cultura pop e um divisor de águas em toda a indústria cinematográfica, seja nos efeitos especiais ou nos produtos licenciados por merchandising. Desde 1977, seu pontapé inicial, tivemos 2 trilogias e agora estamos nos encaminhando para o final da terceira, com 2 spin-offs (Rogue One e Solo: Uma história Star Wars), além de uma série no Disney Plus, The Mandalorian. Por isso, com certeza não e inesperado ou incompreendido o hype e as expectativas em torno do aguardado episódio IX, a conclusão da saga Skywalker. Desde O Despertar da Força, o maior revival da franquia desde a trilogia prequel, vimos Rey, Poe e Finn lutando contra Kylo Ren e a primeira ordem, em uma espécie de soft remake da trilogia clássica, com mesmos conceitos, cenas e elementos de roteiro utilizado pelos filmes antigos. Diferentemente dos novos Star Trek (aliás, também dirigidos por J.J. Abrams), que aposta em elementos novos, a nova trilogia abusa da nostalgia, elemento que foi fortemente contestado por Ryan Johnson em Os últimos Jedi, mas que porém acabou não caindo no gosto dos fãs. Com roteiro escrito a várias mãos, incerto era o caminho que tomaria o episódio 9. Até agora.
O filme tem início exatamente onde termina o episódio 8 – a rebelião, destroçada, e a primeira ordem, fortalecida – porém, ele parece ignorar completamente tudo isso ao inserir um novo elemento: o imperador Palpatine. É curioso o fato da Disney ter abolido o chamado universo expandido (livros, HQs, etc) mas continuar usando elementos dele – e em Ascensão Skywalker temos o exemplo mais notável disso, uma vez que o roteiro, além do próprio imperador renascido, traz diversos elementos da história Dark Empire (no Brasil, Império do Mal, publicado pela Abril). Resumidamente, a trama se resume a busca simultânea, de Kylo (Adam Driver) e Rey (Daisy Ridley), acompanhada de Poe (Oscar Isaac) e Finn (John Boyega), por uma espécie de “bússola” sith que os conduzirão até o imperador (Ian Mcdiarmid). Enquanto isso, vemos a ameaça da primeira ordem, turbinada por uma recém-surgida frota de naves, cada uma com uma mini-estrela da morte embutida, e o treinamento de Rey por Leia (Carrie Fisher, em uma interpretação tocante, e que certamente fará muitos se emocionarem). Em meio a isso tudo, vemos JJ mostrando o melhor de si, com cenas de ação e sequências muito bem construídas, em uma história que, tal qual o episódio 7, não dá sequer um segundo para respirar – algumas delas chegam a ser absurdamente lindas, como a luta de Rey contra a nave de Kylo, no deserto, e a fuga dos rebeldes do star destróier – em determinado momento, a câmera anda, próxima ao chão, com close nos stormtroopers que caem ao chão. A trama, apesar de simples, é Star Wars puro, com planetas, criaturas e naves distintas em um universo realmente fascinante (e que certamente renderia muitos spin-offs), com diversos elementos que fazem referência tanto a filmes antigos como ao universo expandido, ou Legends.
Mas, nem tudo são flores. É fato que o cinema hoje, sofre muito com a forte influencia do fandom, e Ascensão Skywalker foi mais uma vítima disso – tanto e que , tanto no visual como na história, ele é o oposto de seu antecessor. Analisando o conjunto da obra, a narrativa iniciada em Despertar da Força se encerra, mas com muitas pontas soltas. O arco de redenção de Kylo Ren, refutado por muitos fãs, acontece de forma interessante, porém muito abrupta e breve – aliás, todo o clímax do filme acontece muito rápido, e o roteiro recorre a escolhas preguiçosas para se resolver – exemplo: a cena em que Lando e as naves chegam para salvar o dia, na batalha em Exegol, lembra muito a cena final de Vingadores: Ultimato, em que os portais se abrem. Personagens e conceitos são introduzidos, mas nunca utilizados em toda sua extensão, como por exemplo, os tão aguardados cavaleiros de Ren, tão mal-utilizados como a Capitã Phasma dos filmes anteriores. Nem mesmo as lutas de sabres são tão impressionantes – não temos aqui, por exemplo, uma cena como a sala do trono do episódio VIII, ou a luta na neve do episódio VII. Como fã da saga e do universo expandido, confesso que apreciei o filme, uma vez que ele cumpre bem o que promete e entrega um filme-pipoca que diverte e que realmente vale ser revisto – contudo, e inegável que o filme e o roteiro tenha falhas e deixa muitos furos.
Conclusão: Star Wars – episódio 9 encerra de forma coerente a nova trilogia, em um filme que diverte e certamente trará muitos sorrisos aos fãs e leigos – contudo, o filme claramente sofre por carregar consequências de decisões de roteiro tomadas anteriormente, porém respira todos os elementos que fizeram desta uma saga de sucesso. Star Wars sempre foi uma Space Opera, com elementos de sci-fi, por isso mesmo com toda a profundidade de seus conceitos, ele cumpre com louvor seu objetivo de entreter e encerrar o ciclo iniciado, ainda com dezenas de cliffhungers que podem muito bem ser explorados em séries, livros, e claro, novos filmes. Agora, só resta aos fãs aguardar o que o futuro reserva para a saga e torcer para que o legado iniciado por George Lucas em 1977 se mantenha vivo por longos anos. Que a força esteja conosco.
Nota: 7 de 10