Roteiro fraco e preocupado em deixar ganchos para quarta temporada tiram o brilho da série.
Se você ainda não viu, pode conferir aqui nossas críticas da 1ª temporada e da 2ª temporada.
Nesta terceira temporada, Sabrina começa com planos de resgatar uma pessoa que foi levada para o Inferno. Ela vai atrás de informações e descobre uma forma de fazer isso, porém, durante sua jornada acaba sendo desafiada pelos três imperadores do submundo que pretendiam reivindicar o trono de Lúcifer. Então, Sabrina passa a disputar com o indicado da oposição, o príncipe Caliban, para ver quem consegue encontrar as Regalias Profanas, e aquele que as encontrar será coroado o Rei do Inferno.
A série parecia se propor a retratar os dramas adolescentes e o descobrimento e dominação da magia de nossa jovem Sabrina, e nesta terceira temporada ela conseguiu abordar muito mais os dramas adolescentes do que as temporadas passadas (Particularmente, pra mim, isso foi um saco, mas não vou descontar pontos por causa disso, é a proposta da série, e se entre seus objetivos estava me colocar pra pensar se quando eu fui tão irritante durante minha adolescência, quase conseguiu).
Com o visual sempre interessante, o que me incomodou um pouco (de novo), foi aquele filtro de blur em algumas cenas, a técnica utilizada foi um pouco diferente, nada muito inovador, mas me incomodou um pouco menos desta vez. O aspect ratio da série em 19:9, ou superior (seguindo a irritante tendência do mercado que daqui a pouco vai produzir telas que não caberão em nossas casas já que ficarão tão largas e com altura tão baixa, quase que nos forçando a desenvolver olhos de camaleões para conseguirmos olhar as duas extremidades simultaneamente), não acrescenta em nada na experiência, pelo contrário, parece deixar tudo mais longo e cansativo, escondendo parte de figurinos, cenários e personagens. Os efeitos visuais seguem o padrão de qualidade das temporadas anteriores, ou seja, estão bons, a fotografia está boa, mas um pouco inferior ao que vimos principalmente na primeira temporada, já a direção de arte, maquiagem e o figurino saíram ganhando, com alguns cenários bonitos, outros criativos, e imponentes, além de uma diversidade de personagens com características únicas que encantam, cada uma com seu charme.
A trilha sonora imersiva nos ajuda a curtir as sensações que a série quer que sintamos, seja com coreografias de líderes de torcida, seja uma música mais pesada em momentos de ação e atenção, com a suavidade sonora em momentos de reflexão, e até mesmo os ruídos em determinadas situações que são bem altos, propositalmente, para que o expectador sinta quase simultaneamente com as personagens que algo está acontecendo.
O roteiro é o mais fraco das três temporadas. Embora tenhamos ótimas atuações da Sabrina (Kiernan Shipka), Prudence (Tati Gabrielle) Lilith (Michelle Gomez), tia Zelda Spellman (Miranda Otto), e praticamente todas as personagens principais, inclusive Pan, interpretado por Will Swenson, que não chega a ser um dos principais, mas tem algumas aparições recorrentes, faz um ótimo trabalho. Com um roteiro fraco, realmente foi preciso que os atores dessem o sangue para segurar a temporada. A temporada trouxe elementos inovadores, mas que achei pouco explorados, contudo, fico confiante de que tenha se tratado de um preparativo para a quarta temporada que terá muito o que explorar, e se tiver um orçamento maior, tem grandes chances de ser a melhor temporada da série. Mas, enquanto a quarta temporada (já confirmada), não chega, o jeito é se contentar com esta terceira, com seu roteiro fraco, um tremendo furo no episódio final, mas, que consegue te segurar em todos os episódios.
O drama adolescente não me agradou, mas deve funcionar bem com o pessoal mais jovem (não que eu esteja velho, com 34 anos no momento em que escrevo esta crítica), mas ele vivem suas crises com muita intensidade e devem se identificar com a rebeldia e decisões audaciosas das personagens. Além disso, a bruxaria parece ter fica um pouco mais leve, de fato, nas temporadas passadas estava quase parecendo uma série de herói, aqui, parece que a série tentou resgatar suas raízes. O feminismo, que achei bem explorado e bem colocado nas temporadas anteriores, com um ou outro tiquinho de exagero, aqui, ele poderia ter passado batido, mas, como parece ser um irritante modismo querer colocar feminismo em tudo, até quando ele não se faz necessário, houve uma cena onde praticamente o feminismo gritava “você é homem, não preciso de você, você só me dá trabalho”… É claro que a série mantém seu tom feminista, em boa parte do tempo, aonde o tema é explorado, ele está posto de forma tão natural que não o percebemos, e é tão bom que adoramos, mas, realmente foram 2 momentos ali que exageraram, erraram feio a mão e ficou chato, mas com o tempo produtores, roteiristas e diretores vão acertar a mão, e quem sabe um dia feminismo machismo e feminismo deixem de ser termos concorrentes e caminhem lado a lado com o respeito.
Como eu já disse, a temática adolescente é um dos objetivos da série, e não caiu no meu gosto pessoal, mas espero que agrade ao público mais próximo ao centro do alvo do que eu. Talvez os adolescentes queiram ver e rever esta temporada, mas eu não senti essa vontade. Talvez alguns episódios valham a pena ser revisitados, ou assistir a série de modo mais tradicional, por exemplo, um episódio por semana, mas, maratonar a terceira temporada, para mim, iria requerer um esforço o qual não estou disposto no momento. Espero muito que tenha um resumo desta antes da quarta, pois, mesmo sendo uma temporada mediana, prefiro um resumo a uma recapitulação de 8 horas…
Houve ainda umas coisinhas que me incomodara, por exemplo, várias personagens são desenvolvidas durante a temporada, e isso se deu de uma forma positiva, porém, em alguns momentos, parece que esta evolução, esta construção de personalidade, foi tudo jogado fora, com personagens adotando posturas diferentes, não apenas das esperadas, mas do que propuseram para elas em sua construção. Tudo isso acabou soando como conveniências de roteiro, só para que algumas coisas acontecessem como queriam que acontecessem, para que outras personagens ganhassem seu espaço ou para deixar ganchos para a quarta temporada mesmo.
Review
O Mundo Sombrio de Sabrina
A terceira temporada de O Mundo Sombrio de Sabrina resgata as origens da história da nossa bruxa adolescente, foca em seus dramas adolescentes e desafios de ser uma bruxa. O público-alvo parece ter sido mais delimitado, e isso pode não agradar a todos que vinha acompanhando a série. Os problemas crescem durante a temporada e isso é bom, mas parece que o roteiro perdeu o controle da situação criada e aplica uma solução que parece ter sido escrita de forma preguiçosa e sem se importar muito lógica e explicações, ou talvez, tudo tenha sido guardado para a quarta temporada, que parece ser o projeto principal no momento, fazendo desta terceira parte apenas projeto intermediário o qual não recebeu tanta atenção quanto as partes anteriores e vindoura.
PROS
- Excelentes atuações do elenco principal;
- Sonorização e ambientação mantém o padrão de qualidade da série;
- São acrescentados outros elementos míticos ao universo da série;
- Amadurecimento de muitas personagens;
CONTRAS
- Drama adolescente (pode ser um pró dependendo de quem vê);
- Roteiro com saída fáceis e convenientes;
- Se isentar de responsabilidades e jogar tudo pra 4ª temporada.