Novo filme de Robert Eggers traz um filme intenso e claustrofóbico, com atuações monstruosas – mas que com certeza irá dividir muitos fãs.
Desde que fora aclamado pela crítica pelo filme A Bruxa (2017), praticamente um divisor de águas no gênero do terror, ao lado de outras produções, como Corra!, de Jordan Peele. Apesar de ter dividido os fãs (existem aqueles que consideram o filme uma obra-prima, enquanto outros o acharam indigesto e pedante demais), era inégavel o mérito do cineasta em criar um bom terror psicológico que não depende exclusivamente de jumpscares ou de excesso de gore para gerar medo. Por isso, era grande a expectativa desde que seu novo filme, O farol (The Lighthouse) foi anunciado, um hype que foi crescendo ainda mais com a noticia de que o filme havia sido premiadíssimo em concursos internacionais, trazendo ainda dois atores em carreiras consagradas, Willem Dafoe (Homem-Aranha, John Wick) e Robert Pattinson, o futuro Batman do filme de Matt Reeves. Mas agora que o filme afinal saiu em cartaz, fica a pergunta: O Farol vale a pena?
A trama é basicamente simples – dois homens, Thomas Wake e Ephrain Winslow (respectivamente, Dafoe e Pattinson) são encarregados de cuidar de um farol cuja localização não é revelada, em um filme gravado em preto e branco, numa história de época. Por isso, o filme traz muito da cultura arcaica que envolve os mitos marítimos e todas as superstições cultivadas pelos marinheiros na era pré-seculo XX. E o filme é constituído basicamente pela história desses dois homens, patrão e empregado, em seu período de isolamento e trabalho naquela ilha solitária. É clara aqui a influência que o diretor pegou do expressionismo alemão (filmes em preto e branco, que usa e abusa do jogo de luz e sombras), para criar cenários belíssimos e enquadramentos dignos de serem estudados por aspirantes a cineastas. E Eggers tira tudo – praticamente tudo – de ambos os atores, e o que poderia facilmente ser um filme pedante e chato torna-se algo interessante de se acompanhar graças às atuações viscerais aqui presentes. Pattinson, ainda injustamente estigmatizado por seu Edward da saga Crepúsculo, surpreende ao entregar o que certamente é a melhor interpretação em sua carreira – digna de Oscar, aliás – contudo, apenas Dafoe foi indicado, como ator coadjuvante, no Globo de Ouro.
Muito se falou, principalmente na questão do marketing do filme, que essa seria uma obra com raízes lovecraftianas, o que certamente é algo equivocado. Com exceção de um tentáculo aqui e outro ali, o filme pouco possui de horror cósmico, o que não o torna menos interessante. O que vemos aqui é, resumidamente, uma descida em espiral rumo à loucura graças à questões como isolamento, privação de alimento, e até mesmo saúde mental. O Farol é aquele tipo de filme que te fará sair da sessão com um gosto estranho na boca, e um milhão de dúvidas na cabeça. Mesmo que a premissa pareça simples – um encarregado sofrendo abusos por parte de sua rotina exaustiva e um patrão cruel – a evolução de suas diversas nuances é capaz de gerar diversas teorias – inclusive uma que circula pela internet, que considero a mais curiosa, que afirma que o personagem de Ephrain (Pattinson) está sozinho no farol, e que tudo que ocorre a sua volta na verdade não passa de uma espécie de auto-expiação pelos erros cometidos no passado, incluindo suas estranhas visões de polvos, e sereias encontradas na costa da ilha.
Privados de comida, e abastecidos unicamente pelo álcool e pelo estranho vínculo que possuem, os protagonistas vão mudando, pouco a pouco, até um final cada vez mais inevitável. Como havia dito, diversas referências ao folclore dos antigos marinheiros e até mesmo à mitologia – em especial, à figura de Netuno/Poseidon – aparecem constantemente, acompanhados por questões Junguianas que constituem um estudo sobre a psique humana, suas relações, e o que de fato acontece com as pessoas quando são confinadas a um farol por meses. A fotografia belíssima, o estilo de filmagem, e até mesmo a trilha sonora, simples, porém eficiente, contribuem para que esta pareça uma produção antiga, e contribui imensamente para uma sensação de claustrofobia e incômodo – e, mesmo para quem não apreciar o filme, ou não compreender nada do que está acontecendo, é de se aplaudir de pé a ousadia do diretor em entregar algo totalmente fora do padrão, um suspense/terror que dificilmente pode ser comparado à outras produções, estabelecendo-se assim como uma poderosa história original e contada de forma única.
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Review
O Farol (The Lighthouse)
O Farol não é para todos. Seja pelo ritmo, pela tensa mistura entre realidade e fantasia, ou até mesmo pelos conceitos complexos de psicanálise e mitologia que são abordados nas entrelinhas, com certeza o filme não será do agrado de muitos dente o público geral. Porém, para aqueles que apreciam algo diferenciado, que se afasta de clichês e até mesmo da indústria de remakes e sequências a qual o cinema Hollywoodiano parece estar confinado, este filme é uma boa pedida.
PROS
- Atuações
- Fotografia
- Trilha Sonora
- Originalidade e ousadia
CONTRAS
- filme não-comercial
- Não é palatável para todos