Hoje celebramos os 199 anos da independência do Brasil, e temos números interessantes da indústria nacional de audiovisual e de games.
Durante muitos anos o Brasil foi um país ignorado pela indústria cultural e tecnológica. Isso se deu por fatores históricos, como durante a ditadura militar, que fechou fronteiras comerciais e isso estimulou a indústria cultural local, que tinha que atuar sob o filtro de censura militar, e nosso pobre aparato tecnológico que se desenvolveu basicamente a base de clones de eletrônicos internacionais.
Vale ressaltar que assim como a maioria dos países americanos, o Brasil, antes de sua independência foi uma colônia extrativista, ou seja, sua riqueza era enviada para a coroa portuguesa, ouro, a icônica madeira que deu nome ao país o Pau-brasil e outras iguarias. Mas hoje nossa realidade é bastante diferente e os números podem ser impressionantes.
O CINEMA NACIONAL
O cinema nacional, foi, durante muitos anos visto como um entretenimento barato, de baixo padrão e pouca qualidade técnica. Isso começou a mudar no fim dos anos 1990 e principalmente nos anos 2000 após a criação da ANCINE, que posteriormente abraçou a indústria dos jogos eletrônicos também. Com a criação da Agência Nacional de Cinema, projetos independentes tiveram a oportunidade de buscar financiamento de empresas e subsídios governamentais, o que diminuiu o domínio das poucas produtoras nacionais, isso, em uma época em que a internet era pouco difundida e meios de financiamento coletivo não eram uma realidade.
Claro que o cinema nacional contava com alguns clássicos como os filmes de Mazzaropi, alguns outros clássicos como O Pagador de Promessas, Central do Brasil, e várias produções com celebridades dos programas de TV, como Xuxa, Os Trapalhões e outros, muitos populares pelos artistas e não tanto pela qualidade em si.
Nas últimas duas décadas a indústria audiovisual brasileira cresceu muito, tendo filmes e séries sendo reconhecidos internacionalmente, a exemplo de Bacurau, filme que foi citado até como um dos preferidos do ex-presidente dos Estados Unidos, Barak Obama, os eternos Minha Mãe é uma Peça, de Paulo Gustavo. Tropa de Elite, Olga, cidade de Deus e outros. Todos, filmes muito populares e não só pelo elenco carismático, mas por terem elevado o nível da qualidade das produções nacionais, com aplicação de técnicas, equipamentos e roteiros livres para explorar e contar as histórias de forma independente.
Com isso, os números de bilheterias, segundo a própria ANCINE atingiu, só nos cinemas, bilheterias milionárias, terminando 2019 com mais de R$328 Milhões em receita bruta só com filmes nacionais, e este valor é maior que o de 2018 e 2018, perdendo apena para R$2016, com a explosiva estreia de Minha Mãe é uma Peça 2, além de Aquarius, Mundo Cão e Os Dez Mandamentos, neste ano a bilheteria do cinema nacional faturou na casa dos R$362 Milhões, com mais de 30 milhões de brasileiros. Isso reflete a evolução na qualidade de nossas produções, que são capazes de alcançar os mais variados públicos e entregar uma experiência muito boa, um cinema de muita qualidade e que não deixa a desejar, comparando a produções internacionais.
Na área de séries, o Brasil sempre se destacou por suas novelas, porém, o drama familiar pode não agradar a todos, e nas últimas duas décadas, a qualidade das séries nacionais também evoluíram, nos agraciando com séries como: Os Normais, O Mecanismo, Pacto de Sangue, 1 Contra Todos, Narcos, Cidade Invisível, 3%, Dom e várias outras, que além de populares no Brasil, fazem sucesso também no exterior e são distribuídas por serviços de streaming como Netflix e Prime Video.
A INDÚSTRIA DOS GAMES
Já no setor de games, o mercado brasileiro foi, por décadas, renegado pelas grandes empresas, principalmente pelos clones piratas de consoles que se popularizam por aqui desde o período da ditadura militar, que se tornou uma espécie de mal endêmico e persistente até os anos 2000, tendo seu ápice com os Playstation 1 e Playstation 2, que utilizavam CD e DVD, respectivamente, como suas mídias oficiais, o que os tornou bastante populares, já que jogos pirateados tinham baixo custo de produção e eram encontrado a menos de 10% do valor de um original.
Nas duas últimas décadas, a indústria de jogos no Brasil passou a conquistar seu espaço no Mercado. Ainda na década de 1990 algumas empresas decidiram ofertar oficialmente seus produtos por aqui, como o caso da Sega e da Nintendo, com suas representantes locais, Tectoy e Gradiente, respectivamente, porém, este foi um gesto ao Brasil com a reabertura econômica após o fim da ditadura militar. E mais tarde, nos anos 2000, com a expansão da internet e a facilitação à informação, muitas pessoas, interessadas em videogames tiveram a oportunidade de se aventurar a criar suas próprias obras, com acesso a fóruns de discussão e compartilhamento de materiais.
Já na década passada, esta indústria começou a dar seus pulos, literalmente, mostrando ao mundo seu valor, chamando a atenção e conquistando o reconhecimento internacional, da até então 6ª maior economia do mundo.
Para termos uma ideia, em 2020 a indústria dos games no mundo, mobilizou US$165,9 bilhões, 20% a mais do que em 2019. Já no Brasil, em 2019 foram movimentados US$1,6 bilhão. Empresas perceberam o tamanho do público consumidor e passou a dar aquela atenção a mais. Com mais de 80 milhões de pessoas que afirmam consumir videogames no Brasil, sejam no computador, consoles ou celular, títulos internacionais passaram a ser localizados para nosso idioma, recebendo legendas e menus em português brasileiro, e até mesmo dublagens. Além disso, a indústria nacional que após engatinhar na curiosidade dos desenvolvedores, deu seus primeiros passos com o desenvolvimento de jogos educacionais, passou a explorar novos gêneros e hoje presenteia o mundo com títulos relevantes como A Lenda do Herói, um jogo com características únicas, Dolmen e The Light of The Darkness, que vêm causando repercussões positivas mundo a fora. Dandara, Distortions, No Heroes Here, Chroma Squad e Horizon Chase Turbo, também jogos muito populares e com muito apelo, cada um com seu estilo próprio.
O Brasil também se destaca no cenário internacional de eventos de jogos e vou destacar aqui BIG Festival e BGS, sendo a Brasil Game Show um dos principais e maiores eventos voltados para videogames no mundo, palco para grandes expositores e até também para que os desenvolvedores nacionais mostrem seu talento e apresente seus produtos para o público. Assim como o BIG Festival a Brasil Game Show também oferece o espaço B2B, onde empresas, desenvolvedores e investidores tenham a oportunidade de se encontrar e tirar projetos do papel, fomentar e viabilizar novos projetos, e tudo isso ajuda a movimentar e expandir ainda mais este grande mercado e a indústria de games brasileira.
Então, além da independência do Brasil, temos muito o que celebrar, não apenas neste 7 de setembro, mas todos os dias. O 7 de setembro representa a luta do povo para que suas riquezas ficassem por aqui e pudessem ser revertidas para o bem do próprio povo, e que após 199 anos, ainda que estas riquezas não sejam direcionadas de maneira que todos achem a mais adequada, vemos que muita coisa tem mudado, a indústria audiovisual e dos games tem conquistado seu espaço, demonstrado seu valor, e isso abre caminho para que novos projetos surjam, mais investimentos sejam feitos, e muitas oportunidade se abram, expandindo nosso papel na industrial cultural mundial. Ano que vem serão 200 anos de independência, e esperamos que nossa indústria audiovisual e de games esteja maior e melhor do que nunca!