Um filme que leva à reflexão sobre casamento, amores e injustiças, e o quão difícil pode ser ser lidar com causas e consequências.
Charlie (Adam Driver, mais conhecido como Kylo Ren), e Nicole (Scarlett Johansson, mais conhecida como Viúva Negra), estão casado há aproximadamente 10 anos, mas o amor parece esfriando, e eles enfrentam um processo de divórcio, mas eles já em um filho, Henry, e o casal tenta protegê-lo durante o processo.
A sinopse da Netflix apresenta o filme como “Um olhar sensível sobre um casamento que termina e uma família que permanece unida”. E é uma sinopse verdadeira, o título poderia facilmente ser trocada a “História de um Divórcio” que a experiência seria a mesma. O filme que conta com uma história que não parece nada inédita, pelo contrário, é um fato corriqueiro, apresenta de forma não muito sutil o ponto de vista de uma das partes de um casal que está se divorciando. História de um casamento te apresenta nos primeiros minutos, de uma forma nada sutil tudo o que você precisa saber sobre o casal, tudo o que será explorado deles durante as próximas duas horas.
O roteiro, cuidadosamente escrito te apresenta um ponto de vista, mas, a escolha foi ótima, foi o lado mais empático de um casal imperfeito (e assim como o roteiro em alguns momentos parece nos confundir, para evitar que esta minha frase seja mal interpretada, quando digo que é o lado mais empático de um casal imperfeito, estou deixando claro que embora seja um lado empático, não é a personificação de empatia, mas sim, uma pessoa com seus defeitos, egoismo, mas que mesmo assim, tem um pouco mais de empatia do que o outro lado).
As atuações são realmente boas e convencem, principalmente Scarlett Johanson. Adam Driver tem potencial segurar o filme, o corpo fala, o rosto transmite, talvez um pouco menos do que seu corpo, o que ele sente, mas, se você assistir ao filme dublado, perderá metade da atuação do homem. A dublagem brasileira é ótima, mas neste caso, ela não acompanha a entrega do ator e faz ele parecer “um topeira”, “um lerdo”, “um insosso”, “um crianção”. Então assista com áudio original para ter uma melhor experiência. Mas a assistente social tem que ser assistida em português, neste caso, a dublagem brasileira ajuda a potencializar o desconforto e fica ótimo, tão desconfortável que a gente ri, mas deve ser de nervoso mesmo.
A direção do filme é muito boa, conseguindo nos colocar em situações de desconforto, talvez não o mesmo que o casal sente, mas nos faz ficar desconfortáveis quando eles estão desconfortáveis também, o que nos aproxima das personagens e nos afasta da zona de conforto. A trilha sonora ajuda muito, há momentos de silêncio e apenas os diálogos preenchem todo o espaço da tela, já outros, as músicas completam tão bem que até pode transbordar pelos olhos. A qualidade de captação do áudio surpreende dando clareza, quase jornalística aos diálogos em áudio original. Os visuais são ótimos, a direção de arte é caprichada e seus tons frios com pastéis, os filtros de imagem que variam praticamente entre azulados e vintage quase sempre acompanham os momentos, há alguns encontros do casal, a visita da assistente social em que a direção de arte parece ter errado mão e fica uma sensação de que você encaixou em um quebra-cabeças uma peça no lugar errado, mas ao observar de longe, a diferença é mínima, mas assim que focar nisso vai incomodar um pouco.
A direção foi ótima, fez um pouco mais do que o arroz com feijão, em alguns momentos ela entrega elementos marcantes, mas no meio do filme, você começa a sentir como se estivesse assistindo e se envolvendo muito com aqueles seriados de investigação policial, quando você começa a assimilar as pistas e deduzir quem é o criminoso, isso não é de todo ruim, embora pareça que o filme e o casal estão sendo previsíveis, você começa a se afeiçoar ainda mais ao casal e começa a desvendar as reflexões propostas. E ainda chega ao final de modo tão sutil que nos pega de surpresa, parecendo até que a história foi planejada para ter uma continuação, já que até o final, fomos estimulados a nos importar com as consequências das duas partes do casal.
Review
História de um Casamento
Este filme vem com uma proposta parecida com a de uma amostra de arte, nos levar à reflexão de várias formas diferentes, tentando pegar cada um de um modo diferente, proporcionando uma experiência única e individual. Se você assistir ao filme num dia bom, você terminará com um copo meio, do contrário, o copo estará meio vazio. Não estamos de frente para um clássico, mas, com certeza, temos um belo filme aqui com potencial para se tornar cult, com seu potencial precisando de um pouco mais de tempo para ser reconhecido, e reapreciado.
PROS
- Atuações do casal
- Diálogos simples mas com muito a dizer
- Trilha sonora muito bem encaixada
- História comum mas com personagens interessantes
CONTRAS
- A dublagem brasileira do Charlie limita a experiência do espectador