A peça estreia hoje, no Sesc Copacabana.
Aos 40 anos, sendo mais de 25 de carreira, o campista Filipe Codeço já é uma referência no teatro, como ator, idealizador e diretor. Com trabalhos no audiovisual como a novela “Vai Na Fé” (Globo) e “Essa História Dava Um Filme” (Multishow), e uma experiência ainda maior nos palcos, Codeço embarca em um novo desafio e estreia “Língua”, espetáculo pautado em sua pesquisa que explora a interseção entre libras e português. Na peça, que estreia hoje no Sesc Copacabana, além de fazer parte da criação, Filipe vive Félix, um taxista ouvinte.
“Infelizmente a comunidade surda é muito apartada do convívio, principalmente pela barreira da língua. A partir do momento em que não sabemos falar a língua brasileira de sinais (Libras), a comunicação se torna muito difícil. E o nosso projeto veio justamente para tentar quebrar essa barreira e tornar o convívio mais constante, tanto no âmbito cotidiano quanto também no âmbito da arte”, afirma.
Desafios para se comunicar com surdos e ouvintes ao mesmo tempo – Apesar de não ser o primeiro espetáculo nesse formato, Filipe afirma que é sempre desafiador. Isto porque não é uma simples tradução para libras, e sim, a imersão da língua na arte. Diferente do habitual, não existe um intérprete simultâneo, a peça é vivida de fato para surdos e ouvintes.
“Não queremos que tenha um tradutor do lado de fora, em que a comunidade surda precise sempre olhar para fora da cena. O nosso projeto é que essa tradução aconteça no palco, uma obra bilingue e bicultural e isso tem uma complexidade grande. O desafio é ainda maior na comunicação entre nós, atores. Mas é um processo muito rico e engrandecedor”.
Félix é taxista, ouvinte e passa a entender os dilemas da comunicação – Codeço dá vida ao personagem que também é um ex-professor de história e amigo de Matias, um outro taxista, só que surdo. No universo de Matias, todos falam português e libras, menos Felix. A peça se desenrola no aniversário do amigo surdo, em que Félix precisa aprender a se comunicar. Longe de ser um espetáculo sobre surdez, “Língua” traz os dilemas da comunicação, uma paixão entre amigos, a descoberta homoafetiva e as interpretações da arte”.
“Certamente a plateia ouvinte vai se identificar muito com esse personagem, chegando em um espaço onde ele não domina a língua, mas tenta, porque se percebe apaixonado. Além da dificuldade de externar os sentimentos”.
Premiado pela APTR Nacional ao integrar libras e português – Essa não é a primeira vez que o artista se arrisca no universo surdo. Foi vencedor do Prêmio APTR Nacional 2021 de melhor ator em papel protagonista por “Aquilo De Que Não Se Pode Falar”, também parceria com Vinícius Arneiro, diretor e dramaturgo. “Língua” também conta com dramaturgia de Pedro Emanuel, e a colaboração de Catarine Moreira na dramaturgia surda.
Priorizando a técnica acima de tudo – Mesmo que a participação em “Vai Na Fé” tenha sido breve, Filipe contracenou com grandes nomes, como Renata Sorrah e Lo Bianco e destaca que a oportunidade evidenciou o quanto a técnica é importante na atuação.
“Quando você faz uma participação, não tem tempo de criar um relacionamento, então é importante ter preparo e versatilidade. Tenho um manancial de ferramentas para me auxiliar”. Entre as ferramentas de Codeço, o artista estudou a palhaçaria, é músico, roteiriza, dirige e, claro, atua.
Próximos projetos – Imerso no espetáculo que está prestes a estrear como ator e idealizador, Filipe afirma que sua atenção está totalmente voltada à obra. No entanto, já tem alguns planos pós. “Temos um projeto do meu grupo ‘Bando de Palhaços’, o espetáculo ‘Cidade Selva’ que ainda está em processo, mas provavelmente será o meu próximo trabalho no teatro”, conta.
Como diretor e roteirista, está em seu segundo longa-metragem, ainda em fase de definição para o lançamento. “É um filme que tenho muito carinho, é bem íntimo, sobre o meu primo que convive com discalculia, um transtorno de aprendizagem dos números”. Já no audiovisual, conta que tem alguns papéis engatilhados que ainda não pode revelar.
Filipe Codeço é um talento Catapulta – Catapulta é uma gestora artística que surgiu da percepção da necessidade dos atores de se posicionarem no mercado de forma estratégica e consistente, contando com um seleto grupo de artistas, priorizando a diversidade e o desenvolvimento de carreira de cada assessorado, auxiliando em todas as etapas. O intuito é lapidar talentos nacionais e internacionais, entre os quais estão Dandara Abreu, Luiza Rosa, Natascha Falcão e mais.