O título é exagerado, mas se tiver paciência, o documentário é interessante e traz boas reflexões.
[Vale ressaltar, como o nome sugere, trata-se de uma crítica SEM SPOILERS, o conteúdo a seguir reflete a opinião de seu autor. Sinta-se livre para concordar, ou discordar, total ou parcialmente, o importante é que sua opinião seja expressa com respeito e educação].
Tudo o Que Respira é a tradução literal de um documentário chamado All That Breathes. A frase é utilizada em determinado momento do filme e parece ter causado algum impacto nos realizadores, já que, embora o título pareça muito abrangente, o documentário é um pouco, diria muito menos abrangente, e bastante focado em um microcosmo dentro da cidade de Nova Deli (Delhi), na Índia.
Temos um documentário que conta a história dos irmãos indianos Mohamaad, Salik e Nadeem Shehzad, que eram jovens fisiculturistas, mas passaram a dedicar suas vidas a cuidar de milhafres-pretos, uma espécie de aves de rapina indiana, aqui, estes pássaros fracos e feridos na atual segunda maior cidade do mundo. Para fazer seu trabalho, os irmãos contam com ajuda e doações e planejam criar um hospital para o tratamento destas aves. Em meio a sua missão, os irmãos ainda têm que lidar com conflitos étnicos religiosos pelos quais a população vem passando, isso devido a posição geográfica de Delhi ser próxima ao Paquistão e o Islamismo não ser bem aceito entre alguns grupos indianos.
Olhando esta introdução, pode até parecer que o filme é então sobre a questão religiosa, mas não definitivamente ele foca mais nas aves, os conflitos religiosos ficam como um pano de fundo, enquanto o roteiro mostra as dificuldades do grupo para manter o projeto e nos leva a refletir sobre o impacto do ser humano e do consumismo descontrolado sobre a natureza.
Sim, Tudo o Que Respira vai além de mostrar a história deste grupo, ele trata da questão da adaptação das aves, como ela aprenderam a lidar com a presença dos seres humanos, a expansão urbana, invadindo e destruindo seu habitat natural, além de relatar a mudança de fauna, seja por fuga, ou extinção local de espécies.
Além da adaptação, o documentário também nos mostra a questão simbiótica, a coexistência dos milhafres com a cidade, já que são aves de rapina e acabam ajudando os humanos, ao se alimentar de restos de comida, carcaças de animais e outros materiais descartados pelos seres humanos. Porém, mesmo tendo se adaptado ao cenário urbano, a poluição ainda intoxica estas aves que acabam caindo do céu, além de outros problemas e agressões que acaba levando milhafres feridos a serem resgatados para tratamento.
O documentário tem uma fotografia muito curiosa, pois, em muitos momentos ela parece contemplativa, está posicionada ali para fazer transições, e enquanto contemplamos seus planos belíssimos, não nos damos conta que se trata de uma transição e isso é bom para a fluidez do enredo. Embora a direção de arte do documentário seja simples, ainda que este não se proponha muito a ser um documentário explicativo, ela garante alguns momentos curiosos e com propostas criativas, desta forma, nos integramos ao ambiente populoso e quase claustrofóbico de Delhi e do local onde os personagens cuidam dos milhafres.
Tecnicamente o filme nos lembra ocasionalmente que se trata de um documentário, com personagens às vezes falando pra câmera, outras vezes, com a câmera ficando meio distante, num plano quase que escondido. O áudio, pelo menos o original em Hindi tem bom volume e consegue nos ajudar com a imersão e compreensão.
Em Tudo o Que Respira, o drama principal fica na questão dos irmãos, tento desafios e dificuldades para manter seu projeto de ajudar e tratar de milhafres feridos e intoxicados, para que possam se recuperar e voltar para os céus de Delhi, para assim, ajudarem até mesmo com o controle de lixo da cidade. Mas além do drama principal, o filme nos presenteia com uma reflexão sobre o consumismo e uma preocupação já antiga da humanidade, o descarte de lixo. Sem abordar diretamente a questão da reciclagem, o filme nos mostra um pouquinho do que seria um problema imposto pelo aumento no descarte de lixo. E por fim, o filme também nos mostra a importância de diferentes seres e espécies no ambiente em que vivemos, que ainda que muitos não sejam capazes de perceber, cada criatura tem sua importância tanto na natureza quando no urbano.
Tudo o Que Respira está indicado ao Oscar de Melhor Documentário em Longa Metragem. Este me parece um documentário de nicho, pela sua história, enquanto o enredo traga reflexões bem mais amplas. Ele é bom, mas me causa sentimentos dúbios, por enquanto, pelo subtexto, acho que ele tem alguma chance de levar a premiação, mas ainda é difícil de dizer. Tudo o Que Respira, atualmente está disponível no HBO Max com áudio original em hindi ou dublagem em espanhol, contando apenas com legendas em português brasileiro.
Review
Tudo o Que Respira
Uma história de nicho, realmente, Tudo o Que Respira pode ser um pouco difícil de assistir para algumas pessoas, mas quem gosta da questão ambiental e de aves, terá um bom filme documentário. O filme traz reflexões sobre consumismo, produção e descarte de lixo e a interdependência dos seres humanos e a natureza, tudo isso, sob a perspectiva de três irmãos que fazem sua parte tratando aves feridas que ajudam no controle do lixo de uma das maiores cidades do mundo.
PROS
- Subtexto amplo e reflexivo;
- Fotografia e direção de arte;
- A ideia, pelo menos para mim, foi criativa;
CONTRAS
- Início lento e pouco esclarecedor;
- Não possuir dublagem em português brasileiro.