Uma série animada para um público mais adulto que trata com humor e crítica a vida de drag queens periféricas.
[Vale ressaltar, como o nome sugere, trata-se de uma crítica SEM SPOILERS, o conteúdo a seguir reflete a opinião de seu autor. Sinta-se livre para concordar, ou discordar, total ou parcialmente, o importante é que sua opinião seja expressada com respeito e educação.]
Brasileira, a série Super Drags chegou em 2018 ao serviço de streaming em uma minissérie animada de 5 episódios.
Muita cor, música, piadas de nicho e objetos fálicos estão presentes aqui. Em sua capa, a série apresenta a frase “Só para adultos”, mas a classificação da animação ficou 16 anos. Não há cenas explícitas de atos sexuais, nem genitálias, então, se alguém achava que por se tratar de uma série que retrata uma visão do mundo gay, seria algo depravado, é melhor rever seus conceitos sobre mundo, e sobre gays, aqui, as piadinhas têm o mesmo peso das que você encontra em qualquer rodinha de amigos, gays ou héteros, onde uma banana ou uma salsicha já viram motivos para troca de sorrisinhos maliciosos e metáforas de segunda intenção.
As personagens principais trabalham em uma loja de departamentos, e usam o poder de Montar, para se transformarem em Super Drags, sendo uma baixinha, gordinha e careca, a outra é a nerd Barbie, e a outra é a vovó de gogó. São três estilos bastante diferentes de gay e drags, e que são explorados de forma específica para retratar dramas pessoais, familiares e profissionais que as bichas periféricas vivem, e que muitas vezes são ignorados por parte da sociedade.
Super Drags não me conquistou logo no primeiro episódio, pelo contrário, me desanimou, pois parecia muito caricato, hiperbólico nos exageros e trejeitos, tudo muito viajado e “enviadado”, mas, logo no segundo episódio a história mudou, meio que rolou a identificação ao ver o “discreto ativo fora do meio” achando-se menos gay do que os outros. Depois, outros dramas que qualquer pessoa mais empática sabe que muitas famílias vivem por terem filhos homossexuais e pais, patrões, “amigos” menos compreensivos e menos tolerantes.
Em alguns momentos, as brincadeiras e insinuações sexuais, parecem até forçação de barra, em outros momentos, é preciso observar duas vezes para ter certeza que viu direito e cair na risada com a forma que o humor visual é encaixado.
Há muitas referências do meio LGBT (e todas as outras letras que são agregadas à sigla conforme a comunidade evolui e torna-se mais abrangente, e ao mesmo tempo, segregadora). A Elsa, o Dildo, o gay dentro do armário, o que está por trás do homofóbico, a bicha que quer dar pinta, a hétero descolada que se joga no meio dos gays, e muito mais, como vocábulos e gírias que pra algumas pessoas de fora do meio, podem passar despercebidas, e até mesmo para algumas pessoas do meio podem ser um pouco difíceis de pegar.
São só 5 episódios de 25 minutos, e no final, é pedido pelo próprio elenco para que haja segunda temporada, e, com certeza, há espaço para que tenhamos uma segunda temporada, mas, a Netflix cancelou a série aós pressão de determinados grupos. Infelizmente, não poderemos acompanhar mais o drama dessa galera que se autointitulou “periféricas”. Como a classificação indica, não é por ser uma série animada que pode ser vista por crianças, há palavrões e insinuações, realmente o público é adolescente e adulto, gente que entenda de sociedade, crítica social, ou que queira rir de piadas maliciosas e objetos fálicos. Super Drags é uma série que pode trazer reflexão para quem quer debater o tema, ou apenas humor descomprometido para adultos que envelheceram e continuam a rir de objetos fálicos, e comidas que lembrem órgãos sexuais, como se ainda estivem no ensino fundamental ou médio.
Infelizmente, a irresponsabilidade de pais, que em muitas das vezes não têm capacidade de ativar o controle parental, ou mesmo, que simplesmente descumprem as leis, permitindo que seus filhos assistam conteúdo impróprio para sua idade, como a novela das 22h, por exemplo, acaba alimentando a onda de pseudo-conservadorismo em nosso país, onde, a única coisa que parece querer conservar, é o machismo e o preconceito historicamente aceito. Irresponsabilidade esta, que faz pais atribuírem a empresas a tutela sobre seus filhos, tento estas que filtrarem seu conteúdo. Enquanto empresas não assumirem um papel social mais duro, e não se recusarem a servirem como pais substitutos para filhos dessa mazela, continuaremos a formar e tendo que lidar com adultos irresponsáveis, sem senso crítico, despreparados para criar seus filhos, e que no futuro, procriarão novas gerações de irresponsáveis, até que cheguemos a um ponto, onde não se terá liberdade, nem responsabilidades.