Elementos de espionagem, dilemas adolescentes, cenários deslumbrantes e músicas escolhidas a dedo dão o tom da história.
[Vale ressaltar, como o nome sugere, trata-se de uma crítica SEM SPOILERS, o conteúdo a seguir reflete a opinião de seu autor. Sinta-se livre para concordar, ou discordar, total ou parcialmente, o importante é que sua opinião seja expressada com respeito e educação.]
Vou começar com algo que me surpreendeu, que foi descobrir, depois de assistir à série, que há um filme com o mesmo nome, e a série é uma adaptação do filme. Porém, eu não assisti ao filme, então, não farei comparações entre as duas obras, me limitarei a falar apenas sobre a série, e a experiência de primeiro contato com a história.
A introdução eu achei um pouco ruim. O começo da história é rodeado de mistérios, pouco se sabe das personagens que aparecem em cena, só são jogados ali e são acompanhados de alguma ação. O que descobrimos no começo da série, é que Erick resgatou uma bebê chamada Hanna em uma espécie de hospital, clínca, etc… E na fuga, após uma perseguição, a mãe da garotinha, Johanna, que estava com Erick, morre. Então, Erick e Hanna passam a viver escondidos em uma densa e enorme floresta ao norte da Romênia.
Hanna cresce e é treinada por Erick, se torna uma adolescente com habilidades impressionantes, e também, questionamentos. Ela quer saber, assim como os espectadores, por quê vivem escondidos na floresta? Por que os humanos não são confiáveis? O que aconteceu com sua mãe? E Erick, superprotetor, não dá detalhes sobre isso.
Feita a apresentação, já podemos destacar os cenários lindos, a floresta, a caverna onde vivem, e tudo o que está por vir na série enche os olhos. Até o elenco é muito bonito desde mocinhos a vilões. Assistir em HDR ressalta bem as cores, mas, em alguns momentos parecia que a tecnologia falhava, e em outros momentos, o HDR parecia um pouco agressivo, em momento algum deixou qualquer vestígio de contorno, mas, parecia brigar um pouco com a direção de arte, onde, tudo parecia mais escuro, e brotava um céu azul destoante, ou árvores um pouco verde de mais, ou amareladas em excesso… Eu reparei isso em apenas 2 episódios, e em poucas cenas, mas, assim que aconteciam, os elementos ganhavam tanto destaque que era impossível não reparar neles, e depois, pela falta de seu aproveitamento, evidenciou-se que era apenas uma falha no HDR mesmo, nem isso é capaz de estragar a belíssima fotografia da série, que em vários momentos parece que estamos assistindo um belo filme, ou apreciando uma pintura.
A trilha sonora de Hanna é outro espetáculo, principalmente a canção original, ela nos faz lembrar que Hanna é uma garotinha que passou por coisas terríveis e que passa uma parte da aventura sozinha ou lidando com conflitos adolescentes. Além disso, a escolha de músicas é ótima, fazendo referência, complementando ou colaborando para fixar eventos que estejam ocorrendo ou tenham ocorrido durante cada um dos oito episódios. Há ainda uma mescla de trilha diegética e extradiegética, e quando isso acontece, é de uma forma tão orgânica que quando percebemos, já estamos imersos no ambiente.
O roteiro favorece a atmosfera de suspense, mas isso é um tanto cansativo, principalmente nos dois primeiros episódios que levantam muitas questões e não nos entrega nada, causando uma desconfortável sensação de roteiro mal escrito, algumas coisas começa a fazer sentido no terceiro, mas é só a partir do quarto que a série embala definitivamente.
Como há muita trama de espionagem, suspense e cenas de ação, a série parece ter alguma dificuldade de lidar com suas ambições e o roteiro, algumas vezes opta por saídas fáceis, como diversas elipses, que ajudam a história a fluir mais rapidamente, mas em outros momentos faz tudo parecer muito simples ou golpes de sorte.
Uma das melhores coisas de Hanna é quebrar com o maniqueísmo, que vemos em muitas séries, onde temos vilões e mocinhos muito bem definidos e assistimos uma eterna luta entre o bem contra o mal, mas, aqui, temos uma trama mais complexa, personagens com camadas, que vão se despindo ao longo dos episódios e se apresentam para o público de uma forma elegante e às vezes surpreendente.
Hanna é uma boa série, principalmente se você já gostar dos dois primeiros episódios, ou se sobreviver a eles. A primeira impressão não é a que fica, pois temos um roteiro que apresenta pontos de fraqueza e saídas fáceis algumas vezes, mas, é possível compreendê-lo e gostar dele se apreciarmos a primeira temporada por completo. Dividi-la em 2 ou 3 partes pode ajudar digerir melhor e compreender a série, pois torna-se cativante, e acaba compensando o começo irregular e um tanto quanto questionável.
Esta é Hanna, a menina prodígio. Não sei como foi o filme, nem se essa adaptação está boa, mas, avaliada como uma obra independente, Hanna consegue ser uma boa série. Não é ótima e muito longe de ser perfeita, possui falhas, mas é esteticamente bela, e capaz de entreter quem sobreviver às 2 primeiras horas, ou, conseguir chegar à metade do terceiro episódio. Vale a pena conferir, e quando quiser se inspirar, é só lembrar da fotografia da série para sentir a inspiração fluir.