Filme aborda temas sensíveis em uma narrativa densa, mas não perfeita.
Uma narrativa tensa, que tem início de uma forma encantadora e surpreendente, evolui conforme também evoluem as personagens. Dramas, emoções, pequenas alegrias, e amadurecimento emocional estão envolvidos no processo evolutivo.
Visualmente o filme é agradável, com uma boa direção de arte e fotografia, embora em alguns momentos, acabe jogando em nossa cara mudanças que ocorreram com o passar do tempo, como as plantinhas do apartamento, a ponte em construção ou a louça na pia. Isso é bom para que a maior quantidade possível de pessoas consigam entender o que tem mudado com o passar das semanas. Há alguns marcadores de tempo inclusive em diálogos, que podem parecer subversivos, mas são essenciais para compreender a mudança vivida pelas personagens e sua mudança de atitude e postura.
As atuações em geral são boas, apesar que, não sei se foi só um problema a dublagem brasileira da personagem Sarah, interpretada por Vanessa Kirby, no início do filme, não estava me convencendo, parecia distante da personagem, faltava o brilho de uma grávida prestes a dar a luz. Parecia mais que refilmaram as cenas iniciais depois de já terem gravado partes das cenas do meio do filme, então a atriz voltou à personagem parecendo já ter encarnado as mudanças, e nessa parte, não me convenceu. Mas a evolução de todas as personagens foi ótima, Sarah convence no quanto evoluiu, assim como sua mãe, que rouba a cena em um monólogo empolgante, talvez um pouco conveniente, mas que abrilhanta a história. Sean, o marido, interpretado por Shia LaBeouf tem seus momentos, mas a história é sobre Sarah, por isso, ele fica como um bom coadjuvante, enquanto ela brilha soberana, transmitindo seus sentimentos e distanciamento ao público, parecendo estar distante a todo tempo.
Com longos planos-sequência, o filme possui a capacidade de nos engolir, causando sensação de participação e desconforto em momentos importantes nas vidas das personagens. Vale ressaltar que a história é baseada em fatos e o diretor Martin Scorsese trabalhou várias nuances, vários pedaços de vidas, de modo a nos colocar como parte da família, quase como crianças, que acompanham todos os momentos de dentro, mas sem a certeza de seu desfecho.
A trilha sonora é tão suave que por vezes nem a percebemos, é um respiro de leveza na atmosfera densa que se constrói. Entendemos sobre dificuldades da vida de casal, luto, depressão, até Alzheimer. As tramas paralelas parecem terminar sem um desfecho, mas algumas são previsíveis, e outras, o filme nos permite a esperança. Há sentimentos que muitas pessoas talvez não sejam capazes de entender ou interpretar, pois muitas nunca passaram, e provavelmente não passarão nem perto de sentir. O filme aponta uma certa transcendência, a ideia fica clara, mas não sei se o roteiro tenha sido capaz de traduzir isso para todos, por exemplo, eu, um homem, entendi que a transcendência foi atingida, porém, não me convenci que os elementos apresentados bastassem, pelo menos, para mim, não bastaria, precisaria de mais reflexão, mais amadurecimento. Lógico que o filme pode ter trabalhado isso em elipses, e eu acho que isso foi uma falha no roteiro, além de algumas perdas de timing também possam ter afetado o impacto emocional esperado.
Review
Pieces of a Woman
Pieces of a Woman de certa forma lembra até História de Um Casamento. É um filme belo e fascinante, possui interpretações em média, boas, com destaque para Vanessa Kirby e o monólogo de sua mãe Elizabeth, interpretada por Ellen Burstyn. Longos planos-sequência como o parto e reunião na casa de Elizabeth são ótimos e envolventes. O filme não é cansativo e apresenta um ritmo cadenciado, porém, algumas elipses ao final e a perda de timing em duas cenas, diminuem levemente o impacto total, mesmo assim, tornam Pieces of a Woman num filme muito impactante e traz grande reflexão para temas presentes em nossas vidas, que às vezes tentamos evitá-los, ou não buscamos tratamento por subestimá-los ou temê-los. Sem dúvidas, um ótimo filme para refletir, aproximar e enxergar o sentido único da vida: em frente.
PROS
- Atuações primorosas principalmente de Vanessa Kirby;
- Planos sequências envolventes que nos inserem em cena;
- Inspirações e reflexões provocadas ao público;
- Retrato da evolução marcado pela esperança.
CONTRAS
- Pequenas perdas de timing dramático.