Roteiro fraco que ofusca as boas ideias da temporada acabam tirando o brilho da série.
Na crítica da terceira temporada (que você pode conferir clicando aqui), o roteiro da série já havia sido um problema, e esta herança veio para a temporada final da série. A Temporada aborda os
Terrores Sobrenaturais, que são 8, mas apenas alguns são marcantes os demais são completamente esquecíveis, posso citar aqui O Indesejado, O Estranho e O Vazio, talvez A Escuridão, mas alguns como O Perverso, O Cosmo, O Eterno e O Ressurgido acabam não sendo tão interessantes, apesar de renderem episódios com boas referências, como no do Ressurgido e do Eterno.
A série que tinha como proposta fazer uma releitura daquela comédia da década de 1990, conseguiu alguns acertos em suas primeiras temporadas, com a mescla de dramas adolescentes e feitiçaria, ocultismos e satanismo, conseguiu emplacar até boas doses de feminismo, erguendo sua bandeira aqui e ali, o que às vezes não parecia tão claro na primeira temporada, mas nas duas últimas tornou-se mais evidente, e ganhou até um ponto de incisão em um episódio onde após um confronto de que “Faltava um pouco de personalidade”, a série traz um discurso assumindo seu feminismo, de forma brilhante, acabando com qualquer dúvida.
A metalinguagem foi algo presente em alguns dos episódios desta temporada, e estes foram pontos altos, ver a série de apresentar como feminista, depois, vê-la mostrar “os bastidores”, com frases como “Meu quarto fica apenas 6 metros do seu set” (set de filmagem), foram explorações maravilhosas, alguns dos pontos em que o roteiro acertou e a direção pareceu conversar com o roteiro.
A direção de arte e fotografia mantiveram a identidade visual da série, o que foi um ponto positivo, sem dúvidas, porém, alguns borrões que acompanhavam personagens ao caminhar causaram certo estranhamento, e após terminar a série, ficou evidente que não eram relacionados a eventos vindouros, mas problemas de edição, talvez falhas na renderização, ou necessidade de correções na pós-produção, coisas que podem facilmente passar despercebidas pela maioria das pessoas.
A trilha sonora resolveu incluir músicas de décadas passadas como números musicais, alguns que serviam para incrementar a história e outros que estavam ali apenas por estar. No geral é legal ouvir as músicas, mas fica sempre a impressão de que a banda estar ali é desnecessário e forçado, e em um momento onde há uma disputa de bandas, ainda assim fica a impressão de artificialidade, forçação de barra e pra piorar, falha na atuação, o que empobrece o momento. Além de em alguns momentos, a dublagem brasileira ter deixado umas falhas… É um momento aqui onde começou com uma dublagem e terminou com outra, o que talvez não incomode ninguém, mas há um claro momento em que parece ter havido a necessidade de corrigir uma dublagem, e no trabalho de redublagem a qualidade do áudio ficou tão diferente que em uma frase inteira da Sabrina, que estava em um ambiente fechado com outras pessoas, fica parecendo que, pelo áudio, que ela estava conversando no quintal de casa… Essa, todos vão perceber, mas como se trata de uma frase, de aproximadamente 2 a 3 segundos, vai passar batida.
Os figurinos tiveram uma queda de qualidade, assim como os cenários, que mesmo se mantendo bons, estão abaixo da qualidade que vimos no passado. O que salvou os cenários de não serem tão ruins, são as inúmeras referências que vemos às obras de H.P. Lovecraft, e outros elementos da cultura pop e terror.
Por falar em Lovecraft, o nome é citado algumas vezes, mas nitidamente a história dos Terrores do Sobrenatural bebem bastante desta fonte, O Estranho, que vem em formato de uma criatura marinha com tentáculos, capaz de controlar a mente, e Lucas, um estudante que veio transferido de Innsmouth. Além do Cosmo, que (pasmem), um Terror Cósmico… Há referências à mitologia cristão, como Lázaro, que ressuscitou após passar dias enterrado, e à mitologia haitiana, Barão Samedi.
Enfim, o roteiro trouxe boas referências, a produção tentou inovar, como no episódio 7, que me pareceu muito bom, mas fracassou em outros como nos 5 e 6. Tivemos referências ao Nazismo contra o feminismo no episódio 4, que poderia ter sido bom, mas acabou tendo apenas alguns pontos positivos, mas uma execução relativamente fraca, o que comprometeu a boa qualidade do episódio como um todo. Enfim, a temporada não foi 100% descartável, tentou ser criativa e na maior parte do tempo ficou na tentativa, mas quando acertou foi muito bem acertado. Poderia ter explorado melhor o elenco, mas como a série já vinha sofrendo de problema de ritmo, tentaram dar uma pegada um pouco diferente à temporada como um todo, o que resolveu em parte o ritmo, já que acabou de forma acelerada, talvez por causa da pandemia e também por conta de seu cancelamento, que pode ter exigido um pouco mais de poda de arestas, o que mesmo assim ainda deixou um ou outro ponto meio mal resolvido, mas nada que estrague o final, a não ser mesmo o ritmo um pouco acelerado e a aparente quebra de regras do próprio universo.
Segundo Roberto Aguirre-Sacasa, o chefão da série, a história terminou porque ele já havia contado a história que queria. Então, não teria sido problemas de audiência, nem qualquer outra divergência, ou problemas no elenco. Ainda assim, pelo ritmo acelerado, o final faz parecer que a série ainda teria material suficiente para mais alguns episódios.
Review
O Mundo Sombrio de Sabrina - parte 4
O Mundo Sombrio de Sabrina chega ao fim com sua quarta temporada, resolvendo em boa parte seu problema de ritmo, mas não sendo capaz de resolver o ascendente problema de roteiro, que foi aplicando soluções fáceis e conveniências para inserir e resolver problemas num erro de mão grande, desde a terceira temporada, sendo que na segunda já dava sinais de criatividade para a história, mas pouca imaginação para desenvolvê-la. Sem dúvidas a pandemia afetou a série, a pós-produção sofreu com qualidade visual e auditiva, mas isso pode ser facilmente relevado, o que realmente joga uma pá de terra sobre a série, é a falta de conversa entre produção e direção, que em vários momentos andam em descompasso e nem mesmo o talento do elenco é capaz de corrigir tantos pontos baixos de roteiro e a execução através de uma direção que em alguns momentos parece se fazer de míope para situações que deixam aquele gostinho de bem pensadas porém, mal executadas.
PROS
- Identidade visual que gostamos foi mantida;
- Uso de metalinguagem e até metalinguagem dentro da metalinguagem;
- Referências, muitas referências, inclusive a H.P. Lovecraft.
CONTRAS
- Falhas técnicas;
- Roteiro fraco, com conveniências e “genialidades”;
- Elenco mal explorado limitando-se a dramas adolescentes;
- Produção e direção parecem não dançar a mesma música;
- Quebra de ritmo na reta final.