Após longos anos de espera e uma campanha acirrada na internet, enfim ganha vida a versão de Zack Snyder para o filme da liga da Justiça, a maior equipe de heróis da DC Comics – versão esta que acabou engavetada, e o que veio ao público acabou sendo um filme mal finalizado e desastroso, como vimos em 2017. (Para saber mais sobre a odisseia que levou ao SnyderCut, leia nossa matéria: https://thegeek.news/tudo-sobre-liga-da-justica-snyder_cut/)
É impossível falar desta nova versão sem haver comparações com o filme original, finalizado por Joss Whedom.
A versão de Snyder, dividida em 5 partes, segue a mesma linha narrativa, mas logo de cara impressiona ao nós trazer uma abordagem totalmente nova. Então, não estamos falando aqui de uma versão estendida (como ocorreu com Batman Vs Superman), mas sim de um filme 85% distinto do que conhecíamos. Ao invés de uma trama genérica de ação, Zack aposta no desenvolvimento dos personagens e no drama que permeia suas vidas. Sem a pressão de um grande estúdio e com liberdade criativa total, ele pôde contar a história exatamente do modo como havia imaginado. Personagens que no longa de 2017 foram simplesmente jogados em tela, como Flash, Cyborg e Aquaman, agora tiveram seus núcleos melhor explorados – razão esta da extensa duração do filme, contabilizando cerca de 4 horas de exibição.
Verdade seja dita, grande parte do material são cenas extras que em nada adicionam ao plot principal, porém contribuem na construção dos heróis e dão um contexto muito maior à trama. O vilão, Steppenwolf, o lacaio de Darkseid, agora trás um senso maior de urgência e ameaça. Entendemos sua motivação, e até mesmo a mudança radical na aparência lhe caiu bem, dando aos heróis um vilão digno para enfrentar. Após episódios específicos focados na apresentação dos heróis, enfim temos a trama principal, que reside na reunião dos heróis e a corrida contra o tempo para proteger as caixas maternas do vilão.
Um contexto maior é dado também à guerra contra Apokolips – a cena da guerra, quando Amazonas, atlantes e humanos se uniram contra um jovem Darkseid, é muito melhor explorada e se vêem claras referências a Senhor dos Anéis (citadas pelo próprio diretor) – a cena espelha muito bem a reunião dos heróis, que culmina na cena final, melhor construída, cadenciada, e com maior foco em dar a cada um dos personagens uma participação digna. A figura do Batman, por exemplo, que ficou totalmente deslocada no filme de Joss Whedom, gerando até sequências embaraçosas, aqui é tratada com respeito e tem cenas de luta muito boas. Até mesmo a cereja do bolo, o Superman, cuja participação é praticamente idêntica, aqui tem maior dignidade e contexto – a escolha do uniforme negro, além de um fan service, é um renascimento para um herói, que até então vivia o conflito de ser ao mesmo tempo, defensor da humanidade e motivo de discórdia entre as pessoas. Há de se falar também da melhora significativa do CGI, lembrando que durante as gravações do filme o ator Henry Cavill manteve o bigode de seu personagem em Missão Impossível: Efeito Fallout, e o efeito do rosto foi tão mal feito que gerou inúmeros piadas no filme de 2017.
Como dito, muitas cenas são desnecessárias, e poderiam ser facilmente cortadas – o excesso de slow motion e os maneirismos do diretor de fato funcionariam melhor como uma série em episódios (dificilmente veríamos uma produção dessa chegar aos cinemas). Até mesmo a tão falada cena do pesadelo, pareceu deslocada, e soa mais como um fan service do que parte do filme (apesar de apresentar uma proposta interessante para uma possível continuação pelas mãos da HBO Max). Porém, é com grande alegria que digo, mesmo com tais cenas cortadas, ainda assim o filme seria infinitamente superior à sua versão anterior – e mais, pode-se considerá-la a melhor produção de Zack Snyder, além de um dos melhores filmes de herói já feitos.
Apesar de deixar diversos ganchos para possíveis sequências, o futuro do DCU é uma incógnita nos cinemas. Contudo, é bom ver heróis já estabelecidos (Como Aquaman e Mulher-Maravilha, ambos com filmes de sucesso), além de outros, com produções vindouras (como o Flash do Ezra Miller, que voltará para o filme do Flashpoint), sendo finalmente representados em tela – e mais recompensador ainda é ver a ótima recepção do público. Resta saber se a HBO Max vai pegar o embalo e bancar novas produções, dando continuidade ao “Snyderverso”.
De nossa parte, ficamos na torcida, com a certeza de que, mesmo se o DCU não voltar à vida, ao menos temos um filme definitivo da Liga da Justiça.