Um filme rápido, cuja mensagem pode passar despercebida.
[Vale ressaltar, como o nome sugere, trata-se de uma crítica SEM SPOILERS, o conteúdo a seguir reflete a opinião de seu autor. Sinta-se livre para concordar, ou discordar, total ou parcialmente, o importante é que sua opinião seja expressa com respeito e educação].
Pouca gente ouviu falar de Causeway e menos gente ainda ouviu falar de “Passagem”, um filme original Apple, sim, isso mesmo, aquela empresa dos iPhone, ela tem o próprio serviço de streaming, produz filmes e séries próprios e a maioria tem boa qualidade, mas não se preocupe se você ainda não ouviu falar do Apple TV+, é que ele tem o catálogo pequeno está crescendo (embora exista há alguns anos).
Causeway trata do processo de recuperação de um militar durante a guerra no Afeganistão, até aí, parece tudo muito comum para uma história de cinema americano, porém, este militar, trata-se de uma mulher, Lynsey, interpretada por Jennifer Lawrence, uma ex-engenheira militar, que vive traumas pós-guerra e que tenta voltar para casa, tenta reconstruir sua vida e conta com a amizade de James (Brian Tyree Henry), um mecânico que também possui seus traumas e culpas por uma história de dor e perdas.
O roteiro começa bem sutil, nos atraindo para a personagem, apresentando seu progresso de recuperação e depois nos apresentando seus dilemas, desafios e objetivos. Quem é Lynsey? O que aconteceu com ela? Quem é sua família? Será que ela consegue se recuperar? O que ela quer para seu futuro? Todas estas perguntas nos são respondidas enquanto o filme nos coloca bem pertinho da atris, em um círculo íntimo, um micro cosmos que muitas vezes não lembramos que existe, seja na vida de um traumatizado de guerra, quanto uma vitima de crime, agressão (seja ela física ou verbal), racismo, outros tipos de descriminação, etc.
Causeway é um filme simples, curto, sem muita firula, traz um roteiro bastante objetivo. O filme não tenta ser grandioso, na verdade ele é bastante contido mesmo, tanto que evita se alongar, o que, em alguns momentos parece ruim para a história, sendo que algumas coisas parecem acontecer rápido demais, não nos permitindo nos aproximar mais dos personagens. James, por muito tempo parece inalcançável, parece ser um cara legal e cujo único problema que ele teria é conviver com o preconceito, isso fica bem claro em uma crítica que o filme traz sobre o racismo, mas lentamente descobrimos mais sobre ele.
O filme parece tão focado em sua mensagem, que tenta nos afastar dos personagens propositalmente, mas depois, ele se lembra que é preciso ter um pouco mais de empatia para se colocar no lugar de outrem, e aí decide que podemos nos aproximar sim deles, mas quando isso acontece, já foi mais da metade do filme, afinal, estamos falando aqui de um filme de apenas 90 minutos. Quando vemos, ocorre um vórtice de emoções que joga tudo pra cima, e as peças começam a cair alinhadas, restando muito pouca bagunça para ser arrumada, e tudo se torna simples até demais.
A atuação de Jennifer Lawrence pode agradar muito aos seus fãs, mas vou dizer aqui que ela foi boa, foi bem dirigida, mas ainda assim, não chegou a ser um primor, há um momento muito bom de sua atuação, onde vemos sua mudança de humor acontecer em poucos segundos, já em alguns outros momentos, parece que estamos vendo um recorde de uma cena anterior, já que nos deparamos coma exata mesmíssima expressão.
A história foca muito nas pessoas, em seu interior e o quanto isso implica naqueles que estão ao seu redor, e também o caminho contrário, o quanto o meio em que você se insere, as pessoas ao seu redor são capazes de influenciar o seu interior. E nisso vemos como Gloria, a mãe de Lynsey (Linda Emond) e James a influenciam. Se você não prestar muita atenção em algumas sutilezas, o filme vai passar como uma história de drama psicológico de recuperação de traumas de guerra, mas se você conseguir pegar essas nuances, conseguirá extrair um pouco mais do filme, o problema é justamente ele ser tão conciso que acaba parecendo um pouco corrido.
Causeway disputa o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, onde Brian Tyree Henry realmente entrega uma boa atuação e marca muito sua presença de tela, engrandecendo a história. Tem boas chances de vencer, porém, bate na barreira de ser um filme de streaming disputando o Oscar. Atualmente você pode assistir Causeway no Apple TV+.
Review
Causeway
Causeway é um filme de streaming e parece ter sido pensado mesmo para as pessoas assistirem em casa, em algum intervalo de sua rotina, não com uma preparação e um clima mais descompromissado e destinado exclusivamente para se focar no filme, como ocorre nos cinemas. O ritmo anda meio que em descompasso com a proposta e o roteiro demora para entender isso, tornando o filme uma boa opção para assistir após um final de dia e deixar para refletir sobre ele só no dia seguinte.
PROS
- Foco diferenciado da história;
- Personagens interessantes;
- Mensagem significativa para o espectador;
CONTRAS
- Por ser conciso traz um ritmo um pouco acelerado;
- Demora para perceber que precisa aproximar o espectador dos personagens;
- Precisava de mais alguns minutos para ter um final melhor.