A 1ª série steampunk brasileira a chegar no Amazon Prime Video traz um elenco apaixonado e carismático para dar vida a um sonho.
Baseada na obra Brasiliana Steampunk, a série reinterpreta os heróis da literatura brasileira clássica num cenário retrofuturista. Brasiliana Steampunk aborda todo um universo transmídia, com livros, contos, web quadrinhos, a série A Todo Vapor e muitos outros elementos, que quanto mais você se envolve, mais expande o universo e mais se delicia com este primor de obra brasileira. A série estreou em setembro de 2020 no Amazon Prime Video, e foi interessante buscar conhecer mais sobre o universo e o gênero steampunk antes de assisti-la e conhecer este universo expandido. Por isso, estamos preparando outros conteúdos sobre A Todo Vapor e Brasiliana Steampunk, um podcast sairá em breve e mais alguns artigos também, mas hoje, vamos tentar focar mais na série e com o que uma pessoa que estiver navegando pelo catálogo do Prime Video poderá se deparar.
Começando pela sua capa, a série chama a atenção pelas cores e figurinos diferentes de personagens. Ao acessar já temos uma surpresa, além de serem apenas 8 episódios, eles são de curta duração, aproximadamente 20 minutos cada um, um verdadeiro convite para quem está procurando algo para assistir e não está com muito tempo disponível.
A série tem um ritmo fluido, com um início que não se prende a grandes apresentações, mas acaba se utilizando de diálogos expositivos, principalmente para situar o expectador e apresentar alguns termos do steampunk e até mesmo alguns de seus equipamentos que se parecem bugigangas ultramodernas, movidas a vapor. Em alguns poucos momentos parece um pouco acelerada, como em cenas de mais ação e combates, isso pode até parecer um pouco estranho, mas pela duração dos episódios é até aceitável.
Com relação ao visual da série, A Todo Vapor traz um estilo visual bastante peculiar, que não me agradou, mas pode agradar algumas pessoas. Foi feito um extenso trabalho de pós-produção para colorir muitas partes das cenas. Muitas roupas marrons viraram azul-escuro, cinza ou pretas, assim como o chão em diversas partes e até mesmo algumas paredes. A cidade ganhou mais cor, mais vida, mas porque até as paredes de algumas casas foram pintadas na pós-produção. O efeito em alguns momentos é tão perceptível que lembra um trabalho de TCC, onde a ideia é boa, mas a técnica não é tão refinada, porém, aceitamos a boa intenção. Eu acredito que tudo isso seja reflexo do orçamento baixo da produção e reflete o carinho de seus idealizadores, que fizeram o possível para construir seu universo da forma mais autoral possível.
Toda esta pós-produção teve custos na qualidade visual, foi preciso que as filmagens fossem feitas com uma lente muito aberta para que a superexposição das cores pudesse ser compensada depois e o trabalho de pintura digital fosse facilitado. As falhas causaram um efeito semelhante ao que vemos em quadrinhos, onde a tinta propositalmente vasa além dos traços, em partes, alinhada, em outras, sem qualquer padronização. Há trechos em que o trabalho de recolorir parece tão bem feito que justamente me deixa em dúvida se estes vazamentos de cor são resultados do orçamento e cronograma de entrega apertados, que podem ter levado a gravações com sol apino ou se realmente fazem parte de uma estética visual única, planejada e trabalhada para atender às necessidades da produção. Esperando que na segunda temporada isso se mantenha para dar este toque único à série.
As atuações são boas, ainda que os diálogos por vezes careçam de mais naturalidade e fluidez, às vezes falta um suspiro ou uma muleta linguística, realmente algo mais de improviso, para dar maior fluidez aos diálogos. Ainda que as personagens se soltem, e vemos que todos em cena estão se entregando, estão com o brilho no olhar de quem gosta do que está fazendo, os diálogos ficaram muito presos e a dublagem perfeitamente equalizada só aumenta esta sensação de artificialidade. Um trabalho de ambientação tão bem feito pela direção e pela fotografia, que às vezes uma marcação de cena ou um diálogo acabam jogando momentaneamente o expectador para o vale da estranheza.
A parte da trilha sonora é muito bacana, os sons são claros e distinguíveis, as músicas escolhidas também são boas e condizentes com toda a temática e situações, com exceção das cenas de ação, que acabam sendo rápidas e menos empolgantes do que o sobe som sugere. Já na parte de efeitos visuais, não tem muito o que falar aqui, desde a colorização até hologramas, está tudo dentro dos conformes para uma série, e não apenas para uma série brasileira, mas para média mundial mesmo. Tá certo que houve uma cruz inserida digitalmente fazendo uma sobreposição aqui, um sangue que voou e ninguém se sujou ali, mas fora estes dois momentos, os efeitos, embora perceptíveis, estão no padrão do aceitável.
Os figurinos da série são ótimos, mesmo com a colorização digital feita em alguns momentos, que interfere até em cenários, tudo isso é muito bonito de se ver, nos remete há uma viagem ao Século XIX, embora, eu more numa cidade do interior e por aqui não costumemos ver muita gente num social impecável com sapato engraçado caminhando entre o pasto e a mata, as casinhas coloridas, as pessoas conversando na calçada e muita coisa foi bem retratada. Até a estação de trem que lembra os extremos da CPTM é acolhedora. E personagens com figurinos excêntricos, como Juca Pirama, Dr. Benignus ou Nioko, nos enchem os olhos e ajudam a compreender um pouco mais sobre o universo steampunk de uma forma tão gostosa que devem despertar ao menos alguma curiosidade em quem não conhece nada do assunto e provavelmente encontrará material escasso em suas buscas.
Review
A TODO VAPOR! Temporada 1
Pra você que é fã do gênero steampunk, vai gostar da série A Todo Vapor, e fica o convite para explorar todo o universo de Brasiliana Steampunk, ver que cada ator e atriz são verdadeiras personificações das personagens dos contos e quadrinhos é muito satisfatório e descobrir que todo este trabalho é brasileiro, é ainda mais prazeroso. Se você não conhece ou não curte o gênero, pode ser que detalhes técnicos te incomodem e você não se deixe imergir no universo de novidades que te espera. Por fim, A Todo Vapor é uma série de nicho que beira o “ame ou deixe”, mas é um trabalho brasileiro feito por pessoas apaixonadas pelo tema e que pode melhorar um pouco mais para servir de porta de entrada para quem quiser dar uma chance ao steampunk e também se tornar um clássico entre os fãs do gênero.
PROS
- Elenco muito envolvido com o projeto;
- Figurinos e personagens incrivelmente fiéis à obra inspiradora;
- Fazer parte de um universo steampunk a ser explorado.
CONTRAS
- Excessos na pós-produção que causam incômodo visual;
- Direção e diálogos travados;
- A dublagem reduz ainda mais a naturalidade dos diálogos;
- Uma série de pequenos problemas de produção de baixo orçamento (luzes, erro em efeitos, sensação de vazio por falta de figurantes).