Exibidores, produtores e distribuidores mostraram a força e o potencial do mercado nacional durante painéis, apresentações e oficinas com executivos do mercado.
O segundo dia de atividades da Expocine, maior convenção de negócios de cinema da América Latina, seguiu movimentando o mercado com a programação de painéis, palestras, apresentações e feira de negócios nos dois espaços que receberam o evento – o Hotel Renaissance e o Cine Marquise. Mais de 1.300 pessoas garantiram acesso aos quatro dias de evento, que se encerra hoje, dia 06. Temas como Inteligência Artificial, True Crime, diversidade no audiovisual, legendagem e dublagem, investimentos e burnout do entretenimento marcaram as discussões do dia.
O primeiro encontro do dia pautou o uso de conteúdos gerados por inteligência artificial nas produções audiovisuais e a conversa foi comandada por Ygor Valerio, Advogado da CQS/FV, que destacou uma série de cuidados jurídicos e negociais que devem ser observados no segmento de produções neste formato. Já o debate sobre a desburocratização à ocupação de mercado colocou luz aos caminhos que o Brasil ainda precisa percorrer para desenvolver a Indústria Audiovisual. “O que queremos junto com as políticas reguladoras é gerar bem-estar para a sociedade brasileira e isso só pode acontecer com a difusão de obras brasileiras sabendo que o protagonista é o público e quem fará a ligação disso são as empresas que atuam nesse setor. ” Disse Alex Braga diretor-presidente da Ancine. Participaram do debate Bruno Wainer, da Downtown Filmes, Felipe Lopes, da Vitrine Filmes e Leonardo Edde, da Urca Filmes, que mediou o papo.
Na primeira oficina do dia, com o tema “Aplicando os conceitos de ESG em Produções Audiovisuais”, membros da Associação Cultural Panvision e Selo EcoVision provocaram os presentes a avaliar as intenções de sustentabilidade em seus projetos audiovisuais e explorar a integração de práticas sustentáveis nas esferas ambiental, econômica e social do setor. Fernando Quintino, sócio do escritório CQS/FV e moderador da oficina “Investimentos em produtoras brasileiras”, mencionou outras nuances sobre os investimentos no área: “A maioria dos investidores vem de uma dinâmica do mundo dos negócios e startups, não do audiovisual, por isso ainda seguem modalidades específicas desse mundo. Com isso, cabe a nós, como futuros sócios, apresentar nossas dinâmicas de trabalho e mostrar os caminhos possíveis para o crescimento do capital social“. Também participaram Caio Duarte e Ícaro Oliveira, advogados do CQS/FV.
O tópico legendagem e dublagem contou com a participação de Javier Gagliano, da Centauro Comunicaciones, destacando a importância da exportação de obras cinematográficas nacionais e de já se preparar para isso. “Se você já sabe que tem uma obra legal, com apelo de público e sente que pode estourar, porque não já pensar na dublagem e nas legendas? A questão é o planejamento, fazer isso em outros países é muito caro e a qualidade é inferior ao produto que o Brasil pode entregar. Aqui temos profissionais com formação especializada para esse tipo de trabalho, o que não acontece em muitos países”. O painel intitulado “Legendagem e dublagem: como exportar as nossas obras cinematográficas?” contou com mediação do jornalista e crítico do UOL Roberto Sadovski e com participação de Aluysio Riquet, diretor da TransPerfect Media.
Já Marcelo Forlani, co-fundador do site Omelete e da CCXP e a jornalista Aline Diniz debateram uma perspectiva com os visitantes sobre o consumo de narrativas seriadas no cinema e o “cansaço” e “esgotamento” que podem ter tomado conta destes formatos. “Antigamente, tínhamos em um intervalo de 2 anos, três ou quatro filmes de uma mesma saga. Com a estruturação do MCU (Marvel Cinematic Universe), hoje temos 15 no mesmo período. As coisas acabam ficando descartáveis “, destaca Forlani. O painel contou com mediação de Renata Vomero, editora do portal Exibidor.
A programação também incluiu um painel exclusivamente dedicado às produções do gênero true crime. Thais Nunes, story producer, roteirista, diretora e jornalista investigativa falou sobre um dos gêneros que mais cresce no mundo. Ela foi idealizadora de documentários como Eliza Matsunaga, Rota 66, PCC e foi pesquisadora de O Maníaco do Parque e Bandida Nº1 – Uma história da Rocinha. “As redações de jornalismo têm, infelizmente, cada vez menos profissionais, menos dinheiro, menos investimentos e menos espaço para narrativas que saem do lugar ‘do bem e do mal’. Quando contamos histórias de violência devemos estar menos preocupados em dar respostas fáceis e mais preocupados em provocar profundas reflexões. A ética nestas histórias tem de ser repensada todos os dias. Não são todas as histórias que devem ser contadas, nem de qualquer jeito”, destacou.
Um olhar atento e cuidadoso para a diversidade no audiovisual – seja dentro das produções como também de profissionais atuando no mercado – ganhou espaço no painel “A commodificação da diferença”. O encontro colocou no foco da discussão a indagação se os processos no audiovisual estariam se apropriando da diversidade apenas como mais uma commodity na cadeia produtiva. Tatiana Carvalho Costa, presidente da APAN (Associação de Profissionais do Audiovisual Negro), mediou o painel e destacou crenças enraizadas na sociedade que reforçam a visão do diferente como um produto, além de contribuírem para manter um ciclo de violência. “Temos 400 anos de história de sujeitos objetificados, vistos como commodities, moedas. Reproduzir isso é de um racismo tão profundo e as pessoas naturalizam isso. Ninguém fala ‘eu preciso de um homem branco’. O correto é eu preciso de um produtor, eu preciso de um roteirista. É isso. Mas tem essa chancela de um raciocínio que ainda está muito impregnado na ideia de universalidade, sem entender que essa universalidade é branca, e tudo o que não é isso é o outro. É o objeto que eu preciso pegar para validar o meu projeto. É preciso que a gente quebre esse ciclo de violência”.
A Expocine se encerra hoje, sexta-feira 06/10, apresentando painéis sobre supervisão musical, ESG no Audiovisual, discussões sobre os mecanismos de fomento do sistema de financiamento à cultura, sobre as novas tecnologias de distribuição e exibição de filmes e a oficina sobre proteção de dados e privacidade no audiovisual. A Spcine ainda apresentará sua agenda de prioridades para o setor e seu balanço de ações do último ano e ainda pela manhã acontece o painel sobre a internacionalização de filmes em territórios latino-americanos. O evento fecha a noite com a cerimônia de encerramento e entrega das homenagens a empresas do setor, englobando produtores, distribuidores e exibidores.
Já no Renaissance Hotel, hoje é a última oportunidade de visitar a tradicional feira de negócios, com 24 expositores e muitas marcas de serviço e produtos apresentando suas principais novidades para os mercados de exibição, distribuição e produção cinematográfica. Entre os expositores, estão Preshow, Equiposhop, Projetelas, Warm, Cinionic, DB Series, Christie, Osram, Bravoluz, Maxillusion, Ingresso.com, Venda Bem, Zinc, Kelonik, Santa Clara, Severtson, Estado Rio Grande Do Sul, Estado Paraná, Sharp Nec, Olyra, Inorca, Macro Toy, Pipocas Cianorte E Quanta Pro
A organização da Expocine 2023 conta com patrocínio de Spcine, Kinoplex, Cinionic, Grupo Consciência, Dolby, Gaia Digital, GDC, Harkness, HotSound, Iguale Acessibilidade Ingresso.com, Kinelux, MaxIllusion, Osram, Sharp/NEC, Soluplex, Telecine, Venda Bem, Cine Master, Cervejaria Ravache e ScreenX.