Adaptação da obra de H.P Lovecraft mistura efeitos práticos, visual psicodélico e a loucura de Nicolas Cage
Anunciado no final de 2019, The Color Out Of Space (ou, A Cor que caiu do espaço) é uma produção do estúdio RLJE Films, com a presença do conhecido ator Nicolas Cage como o protagonista. O filme, que sairá direto para DVD, é uma corajosa adaptação do conto homônimo do escritor norte-americano H.P.Lovecraft, cujas obras atualmente ganharam muita notoriedade, gerando diversos derivados em games, series e filmes – e este, que se propõe a ser o primeiro de uma trilogia baseada nas obras do renomado autor, é também o retorno do diretor Richard Stanley após um hiato de 24 anos (!).
Sobre a trama, não há segredo – para os conhecedores das obras de Lovecraft, e fãs do gênero horror cósmico (que abrange ameaças espaciais e questionamentos sobre a insignificância do homem diante da grandiosidade do universo), os elementos estão todos lá, para quem leu o conto, vai ter muita estranheza, já que o roteiro toma MUITA liberdade sobre o material original. E, para quem caiu de pará-quedas e está tipo “que filme é esse?”, provavelmente terá a sensação de estar assistindo um filme de horror thrash com uma pegada oitentista (em especial filmes de John Carpenter, como O enigma de Outro Mundo). A história é simples: a narrativa acompanha a família Gardner, recém-mudada para uma casa na fazenda, e de início o filme se preocupa em apresentar, um por um, os membros da família, e criar assim, um elo com o espectador. Temos aqui todos os arquétipos de uma família tradicional americana: o pai protetor, a mãe preocupada (embora o filme enfatize que ela possui um emprego muito rentável), os filhos rebeldes, e o filho caçula que, como em todas as historias de horror, é o primeiro a ter contato com o mal.
O ponto de virada da narrativa ocorre quando um estranho meteorito cai na fazenda, próximo ao poço. Dali em diante, mudanças começam a acontecer na vida de cada um dos familiares, e no ambiente que os cerca. No conto, os efeitos causados pela radiação levam tempo para se manifestar – já no filme, elas são bem mais aceleradas. Independentemente dos horrores visuais que aparecem, aos poucos, na história, o que temos aqui é basicamente uma descida em espiral rumo à uma loucura cada vez maior – água contaminada, estranhas flores e animais mutantes que surgem – até chegar a cheiros desagradáveis que nunca passam, e crianças ouvindo vozes misteriosas. Até mesmo as alpacas (animais semelhantes a lhamas) tem aqui a sua função narrativa. Muito se criticou a respeito do tom usado para a cor descrita – segundo o autor, como “uma cor jamais vista antes” – e que em tela surge como uma bizarra mistura de tons de roxo, azul e púrpura. Visualmente, o filme é belissimo, com cenarios alienígenas e criaturas que mesclam bem efeitos práticos ao CGI, e uma trilha sonora estupenda e original. Porém, a impressão que se tem e que o visual poderia ter sido melhor aproveitado, citando como exemplo o filme Aniquilação, em catálogo na Netflix (que, aliás, pega muitos conceitos da história de Lovecraft).
Como filme de horror, a trama funciona, diferenciando-se de muita coisa que é tida como “padrão” no gênero – apesar de um jumpscare aqui e outro ali – ele nitidamente aposta mais no visual, e no horror psicológico do que em sustos, provando que é possível assustar sem depender de demônios, fantasmas ou mortos-vivos. Ao final, quando os efeitos bizarros do meteoro são consolidados, temos um final apoteótico que homenageia toda a obra de Lovecraft sem propriamente entregar nada muito revelador, porem sendo fiel à obra a qual se baseou. Talvez, para os milhares de fãs do autor órfãos de boas adaptações, o filme não seja tão bem recebido – porém, como terror, ele funciona, e vale sim, ver uma segunda vez, seja para apreciar a bela filmografia ou apenas caçar referências ao universo lovecraftiano, como a cidade de Arkham, a universidade Miskatonic e o famigerado livro maldito, Necronomicon.
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Review
A cor que caiu do espaço (2019)
O filme é um belo exemplar de horror cósmico e certamente agradará aos fãs de cinema estilo anos 80, além de filmes de terror B, com uma pegada psicodélica, que se distancia do padrão seguido pela maioria. O diretor não reinventa a roda, mas consegue construir uma obra que te deixa interessado e intrigado, com um final que certamente trará muitas teorias para os fãs do gênero e do escritor H.P Lovecraft.
PROS
- Clima de tensão
- Visual e fotografia belíssimos
- Fidelidade ao universo lovecraftiano
- Trilha Sonora
- boa mistura de CGI e efeitos práticos
CONTRAS
- orçamento reduzido
- algumas atuações não convencem
- não traz nada inovador ou revolucionário em si
- não saiu em cinemas ou streaming