Cineasta italiano, que assina arte do cartaz, recebe homenagem tripla no festival. 47ª edição concede Prêmio Humanidade a documentarista francês.
A Mostra Internacional de Cinema em São Paulo realiza duas grandes retrospectivas dedicadas a mostrar o trabalho dos cineastas italiano Michelangelo Antonioni e francês Sylvain George.
Vencedor de inúmeros prêmios em festivais internacionais, Antonioni (1912-2007) tem sua obra revisitada com a exibição de 23 títulos realizados em 65 anos de atividade. A Mostra exibe longas e curtas, ficções e documentários, em que ele atuou como diretor, roteirista e produtor.
Entre os filmes premiados em festivais como o de Cannes, o de Berlim e o de Veneza, terão sessão desde suas produções mais conhecidas, como Profissão: Repórter (1975), Blow-Up – Depois Daquele Beijo (1966), e os que integram o que ele chamou de “trilogia da incomunicabilidade”: A Aventura (1960), A Noite (1961) e O Eclipse (1962), até os curtas que Antonioni dirigiu antes de realizar seu primeiro longa, em 1950. Os dois primeiros, Gente do Pó (1947) e Limpeza Urbana (1948), são, como estudos e desenhos feitos por artistas plásticos, ensaios em que se esboça uma característica recorrente do cinema do diretor.
A retrospectiva Michelangelo Antonioni que o público da Mostra tem a oportunidade de ver em 2023 estimula não apenas a compreensão de um conjunto coerente e da progressão de sua complexidade. Ela também evidencia como a obra de Antonioni, além da importância histórica, fertiliza, de modo consciente ou não, aspectos que definem o cinema contemporâneo mais autoral, como a rarefação narrativa, o expressionismo sensorial ou as situações sem motivo indeterminadas.
O cineasta, que também era pintor, assina o pôster da 47ª edição da Mostra. Suas pinturas também estarão disponíveis ao público durante o festival. O Instituto Italiano de Cultura de São Paulo vai abrigar uma exposição de 24 obras de Antonioni entre 23 de outubro e 17 de novembro. Os quadros podem ser vistos na avenida Higienópolis, número 436, com entrada franca, mediante agendamento. Completa a homenagem a leitura que os atores Fernanda Marques, Aury Porto, Christian Malheiros, Arlindo Lopes, Gabrielle Lopes, Brunna Martins, Augusto Madeira e Milhem Cortaz farão do roteiro de Tecnicamente Doce, que foi escrito por Antonioni e será filmado com direção de André Ristum, produção de Caio Gullane, Fabiano Gullane e André Novis em coprodução com a empresa italiana Vivo Film, associada à Enrica Antonioni.
FILMES DA RETROSPECTIVA ANTONIONI
A Aventura (Reino Unido/EUA, 1960)
A Dama sem Camélias (Itália, 1953)
A Noite (Itália/França, 1961)
Além das Nuvens (França/Itália/Alemanha, 1995), com codireção de Wim Wenders
As Mentiras do Amor (Itália, 1949)
Blow-Up – Depois daquele beijo (Reino Unido/EUA, 1966)
Crimes da Alma (Itália,1950)
Gente do Pó (Itália, 1947)
Identificação de Uma Mulher (Itália/França, 1982)
Kumbha Mela (Índia, 1989)
Limpeza Urbana (Itália, 1948)
O Amor na Cidade (Tentativa de suicídio) (Itália, 1953)
O Deserto Vermelho (Itália/França, 1964)
O Eclipse (Itália/França, 1962)
O Grito (Itália/EUA, 1957)
O Olhar de Michelangelo (Itália, 2004)
Os Vencidos (Itália/França, 1953)
Profissão: Repórter (Itália/França, 1975)
Roma (Itália, 1989) (episódio do longa 12 Registi per 12 Città)
Sicília (Itália, 1997)
Superstições (Itália, 1949)
Vulcões e Carnaval (Itália, 1992)
Zabriskie Point (EUA, 1970)
A Mostra realiza também uma retrospectiva com todos os filmes de Sylvain George. O cineasta francês, que recebe o Prêmio Humanidade desta edição do festival, vem compondo há menos de duas décadas uma filmografia que busca projetar imagens de grupos marginalizados. Imigrantes, sem-teto, indocumentados, excluídos e clandestinos povoam a filmografia do diretor francês.
Antes de realizar seus primeiros curtas, a partir de 2005, George graduou-se em filosofia, direito e ciências políticas, saberes que visivelmente se conjugam na construção de seu olhar.
Poeta e fotógrafo, além de cineasta, Sylvain George explora questões como justiça social, migração e guerras em seus longas. Uma das estratégias do diretor francês é inserir-se nos grupos, em vez de filmá-los de fora, à distância, como fazem as forças policiais (e o jornalismo). O processo imersivo possibilita perceber as dinâmicas e hábitos, mas não no modo captura de flagrantes e sim para compor uma poética na voz do outro.
Os documentários de Sylvain George foram exibidos e premiados em festivais como CPH:DOX, Buenos Aires e Turim. A Mostra exibe também seu filme mais recente, Noite Obscura – Adeus Aqui, em Qualquer Lugar, que recebeu menção especial em Locarno.
FILMES DA RETROSPECTIVA SYLVAIN GEORGE
Fragmentos (Minha Boca, Minha Revolta, Meu Nome) (França, 2012)
Noite Obscura – Adeus Aqui, em Qualquer Lugar (França/Suíça, 2023)
Noite Obscura – Folhas Selvagens (França/Suíça, 2022)
O Impossível – Páginas Rasgadas (França, 2009)
Paris É Uma Festa – Um Filme em 18 Ondas (França, 2017)
Que Descansem Sem Paz (Imagens da Guerra) (França, 2010)
Rumo à Madri (Espanha/França, 2021)