A série parece ter assumido de vez a galhofagem e tem se acertado com o entretenimento, mesmo causando estranheza.
[Vale ressaltar, como o nome sugere, trata-se de uma crítica, o conteúdo a seguir reflete a opinião de seu autor. Sinta-se livre para concordar, ou discordar, total ou parcialmente, o importante é que sua opinião seja expressada com respeito e educação.]
Parece que The Walking Dead resolveu abraçar de vez o absurdo, além é claro do absurdo da simples existência de zumbis. Depois de várias temporadas buscando na maior parte do tempo, saídas minimamente realistas, o que pode nem sempre ter agradado a audiência, a série que parecia tratar com alguma verossimilhança as relações humanas e sobrevivência, parece ter achado por bem abraçar o entretenimento e trazer conteúdo para nos cativar na frente da TV.
Pode parecer estranho, mas, o relacionamento com a galhofagem se estreitando, The Walking Dead parece estar se reerguendo, e novamente consegue nos prender na tela sem que tenhamos que lutar contra o sono para ver o drama da sobrevivência de nossos remanescentes preferidos.
Neste episódio, a direção de arte atendeu seu propósito, o de beneficiar as atuações fracas do elenco de apoio, este é um recurso comumente utilizado, você grava cenas de ação à noite, ou em locais escuros, para que a audiência não se atenha às atuações discrepantes realizadas por figurantes.
A sonografia esteve boa, conseguiu causar tensão na medida certa, desde o breve bate boca na enfermaria, no início do episódio, como durante os momentos de ação ao logo do episódio. As atuações foram boas, melhores do que as do episódio anterior, pelo menos nas cenas de diálogo. E por falar em diálogos, embora alguns tenham sido expositivos, outros trabalharam muito bem metáforas e outros elementos de linguagem, o que nos livros de conversas pobres.
Mas, se o episódio teve vários elementos positivos, então por quê você citou galhofagem no início, Ricardo? Vou já explicar para vocês meus queridos. Primeiramente, galhofa ou galhogem, é quando algo não é levado a sério, e a série, que por muito tempo vinha se levando a sério, em um cenário onde ela considerava possível a existência de zumbis, parece que resolveu adicionar outros elementos fantásticos à sua trama, seja para reter a audiência, ou por pobreza de roteiro.
No episódio anterior, tivemos a perseguição de Rick ao Negan, com muitos tiros no nada, e no final, quando estavam frente a frente, a munição acabou, mas, como se a galhofa tivesse pouca, Rick arremessa sua machadinha e Negan realiza uma exagerada manobra de esquiva, que lhe colocou em situação de perigo, e convenhamos, manobra que só serviu para dar continuidade ao episódio, pois foi hiperbolicamente desnecessária…
Neste episódio, o exagero tentou ser levemente disfarçado, com cena de ação do Daryl na moto, o coice da metralhadora parecia inexistente, mas, deixando isso passar ainda tivemos cenas que foram mais difíceis de engolir, mostrando horários nos relógios, mesmo assim, tudo pareceu muito sincronizado, e não foi o suficiente para tirar o ar de “nossa, que coincidência tudo isso acontecer ao mesmo tempo”.
No fim das contas, o episódio cumpriu o que prometeu, trouxe cenas de ação, tensão, e voltou a reforçar o perigo dos zumbis (algo recorrente desde o episódio 4). Vimos ainda que a sorte dos salvadores é que o pessoal de Hilltop parece muito ruim de mira, e descobrimos o porquê da Carol não gostar de crianças.
Depois deste episódio, eu, que só queria a morte da Tara, já quero também a morte do Morgan, só para não ter que ouvir novamente que ele sabe qual é… E aquele garotinho chato o Henry… Eita moleque insuportável…
Os poderes mediúnicos do Rick estão em dia, personagem que nunca teve fama pela sua inteligência, parece ter tido uma inspiração dos roteiristas de Death Note da Netflix, e chegou a uma conclusão atípica para seu intelecto, nas devidas circunstâncias, o que foi surpreendente e colaborou para o episódio se aproximar da zona da estranheza. É impossível você assistir o 8×13 e não achar que algumas coisas anormais andaram acontecendo.
Em resumo, episódio foi bom, foi capaz de entreter principalmente àqueles que não se preocupam tanto com a parte técnica nem com precisão de roteiro. Teve um bom foco na Maggie, com certeza as melhores cenas foram as dela. Contanto que continue seguindo pelo caminho atual, com certeza The Walking Dead nos trará outros bons episódios, e conseguirá se manter atraente, porém, a série parece estar passando por um período de transição, e não sabemos até onde ela irá. Algumas coisas que poderiam parecer absurdas em temporadas anteriores (e não estou falando da existência de zumbis), são tratadas com mais naturalidade atualmente, mesmo assim, diante dessas mudanças, fica o receio de serem apenas saídas fáceis de roteiro, a fim de tentar nos surpreender e demonstrar que os roteiristas não querem que tudo seja tão previsível para quem já leu as HQs. Estão conseguindo modificar os rumos da série, mas, para isso, estão sacrificando algumas das regras pré-definidas no universo onde ela se passa, resta saber se depois dessa oitava temporada, continuaremos com The Walking Dead Raiz, ou teremos The Walking Dead Nutella.
PS: Não que a versão Raiz ou Nutella implique que uma seja melhor do que a outra, neste caso, utilizei esta analogia, apenas para dizer que a série pode parecer um pouco irreconhecível para quem acompanhou algumas temporadas anteriores, abandonou e esteja pensando em voltar a assistir.